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Tentando dar alguma razão à emoção do futebol

29 de jun. de 2006

As Copas que vivi (III) - 1994

escrito por Raphael Perret @ 23:40 1 comentário(s)


Mesmo que a Suécia colocasse todo seu time para marcar Romário, o Baixinho faria o milagroso gol que pôs o Brasil na final: a seleção mostrava ao mundo ser possível aliar o talento ao rigor tático


Quase nada nos dava muita esperança de que o tetracampeonato viria nos EUA, há 12 anos. A seleção fez sua pior campanha nas eliminatórias. Chegou a perder um jogo pela primeira vez naquela competição, vê se pode! O time herdou muitos jogadores da geração anterior, derrotada na Itália, em 1990. Já estávamos há 24 anos na fila e compartilhávamos o já banal status de tricampeão com a Itália e a Alemanha. Com quinze anos de idade, eu nem sabia o que era ser campeão do mundo e as decepções precedentes só me deixavam escaldados para mais uma frustração.

Mas estávamos na torcida. Queríamos vibrar juntos, gritar em coro, xingar em uníssono, sofrer compactuados. Decidimos, então, organizar tudo. Preparar o melhor ambiente possível para que a garotada do edifício Roma, em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, comemorasse o tetracampeonato com a merecida emoção.

A Copa para nós não começou quando a campeã, Alemanha, derrotou a Bolívia, nossa algoz nas eliminatórias, no jogo de abertura. Resolvemos enfeitar o trecho da rua em frente ao prédio. Na época, não havia shopping Iguatemi, mas o simpático campo do América. A via ainda não tinha pistas duplas, ou seja, ainda era estreita e não nos daria muito trabalho. O pior, para mim, era a primeira tarefa: coletar dinheiro para bancar a empreitada. Conseguimos arrecadar o suficiente para o que queríamos pedindo aos moradores e aos motoristas, num pedágio semelhante ao imposto aos calouros nos trotes universitários. Depois de juntar grana empurrando carro enguiçado e tentando explicar aos motoristas que não éramos pivetes, pusemos a mão na massa e na tinta. Isolávamos metade da rua na madrugada para pintar a outra parte do asfalto, e vice-versa. De manhã, já era possível avistar, das varandas, uma enorme águia vestida de Brasil cravada sobre a rua. Mas a via não foi o único alvo dos enfeites. Compramos dois tecidos, um verde e outro amarelo, e com a ajuda da minha avó e de suas habilidosas mãos costureiras, fizemos uma gigantesca bandeira retangular, com uns 30 metros de comprimento, e a penduramos numa das faces do edifício.

Paramentados como desejávamos, chegava a hora do programa mais prosaico: assistir aos jogos. Um de nós era escalado para pedir ao seu responsável a TV emprestada durante algumas horinhas. Uma negociação com o síndico permitiu que pudéssemos ver as partidas no salão de festas. Ritual sagrado, repetido nos sete jogos do Brasil naquela Copa. Uma gritaria se alastrava pelo playground imediatamente após um gol da seleção. Suspiros femininos ecoavam pelo salão à medida que Raí e Leonardo apareciam no vídeo. Os jovens, todos, com seus 15, 16, 17, 18 anos, abraçados, em correntes, tensos, nervosos, assistiram ao the end mais tortuoso que uma Copa jamais proporcionou: a disputa por pênaltis na decisão.

Perder aquela final seria um cruel castigo para o Brasil. A seleção foi superior a todos os seus adversários, exceto nos momentos em que sofreu seus três únicos gols na Copa (um da Suécia e dois da Holanda). A muralha trrinada por Parreira funcionou perfeitamente. Só faltou ao meio-de-campo um poder de criação mais presente, o que abriria, sem muito sofrimento, o caminho para as vitórias. Por sorte, o Brasil tinha uma dupla de ataque fantástica, no auge da forma, composta por Bebeto e Romário. Os dois, quando exigidos, corresponderam e resolveram a parada. Sobretudo o Baixinho, por quem nutria uma incansável antipatia, pela presunção notória e pela inflamação da mídia, a meu ver exagerada (o grande exemplo veio na capa do Globo no dia seguinte ao triunfo de 1 a 0 sobre os EUA, gol de Bebeto com passe do companheiro de ataque: "Romário dá vitória ao Brasil"). Hoje, não posso fechar os olhos para a frieza, segurança e boas atuações de Romário na Copa de 94. Sem ele, provavelmente amargaríamos mais quatro anos de jejum de títulos mundiais. O futebol de Romário (e o de Bebeto também, façamos justiça) nos EUA foi a prova de que o Brasil não precisava ser afetado pela era do pragmatismo. Se a Copa de 1990 foi o marco inicial do domínio do futebol de negócios e do defensivismo excessivo, teoria segundo a qual a marcação é um atributo mais importante que a criação, o Brasil de 1994 mostrou que o time poderia ser seguro na defesa e não apenas forte no ataque, mas também objetivo e talentoso. A conseqüência mais visível desta vitória foi o fortalecimento do futebol brasileiro, que ainda sobressai em meio ao jogo das seleções mais "modernas", graças à habilidade de nossos jogadores, e a própria melhora dos jogos nesta Copa e nas seguintes, com mais gols e jogadas mais marcantes, comprovando ao mundo que é possível unir talento e segurança. Nascia o futebol do equilíbrio.

E foi com esse futebol que ganhamos o tetra. Burocrático, sofrido, emocionante e difícil, com poucos gols e um desespero do início ao fim, principalmente das oitavas em diante. No fundo, sabíamos que o Brasil seria campeão. A derrota não passava pela cabeça de ninguém. Daí vinha a nossa obstinação em tornar aquela Copa inesquecível. Cada jogo era o ato de uma peça da qual todos sabiam o desfecho e onde cada um cumpria seu papel. O da seleção era jogar. O de nós era torcer. O final era Dunga levantando a taça. Igualzinho ao que estava no script. No nosso script.

28 de jun. de 2006

Nossas oitavas

escrito por Raphael Perret @ 15:34 2 comentário(s)

Brasil 3 x 0 Gana

Eu já tinha falado: Gana é veloz, habilidoso e forte. Mas não sabe chutar. Chega na cara do gol e manda a bola para a lateral. Pensa que ganha pontos quem manda mais longe do goleiro adversário. Tivessem melhor pontaria, os ganeses poderiam sair da Copa com um placar mais honroso ou mesmo, quem sabe, comemorar uma classificação.

O Brasil recaiu no velho defeito da falta de movimentação dos atacantes, somado a um problema que ocorreu especificamente hoje: a atuação mediana de Kaká - embora decisivo - e Ronaldinho Gaúcho. Quando Ronaldo e Adriano se mexeram, tentando escapar da marcação, fizeram os gols. E o time só voltou a assustar quando Juninho entrou em campo, o que coincidiu mais ou menos com o momento em que Gana ficou com dez e acabou recuando.

A defesa também começou a vacilar. Não foi tão segura diante de um time que toca bem a bola e é rápido. Por sorte, além da má pontaria dos ganeses, Dida esteve soberbo.

Parreira deve ter seus motivos para ter repetido a escalação dos dois primeiros jogos. O placar foi elástico porque o Brasil teve sorte de conseguir um gol aos cinco minutos e um adversário expulso. O time pode fazer uma apresentação melhor que a de hoje, sem dar grandes sustos e com mais finalizações. Até porque os próximos rivais são melhores e mais experientes que Gana. Não acreditemos na grandeza deste 3 a 0.

***

Os gatos-mestres de plantão disseram que o Brasil não ia ganhar a Copa porque a arbitragem ia prejudicar o time. Imaginem, então, se os juízes não quisessem...

Hoje, o Brasil teve uma arbitragem tranqüilamente favorável. O juiz deu seis vários cartões amarelos e um vermelho para o time de Gana, deu um gol em que Adriano estava impedido. Além disso, Zé Roberto fez o seu em posição polêmica.

Se houvesse mesmo um movimento anti-Brasil, por que ele permitiria essas benesses?

Ou a orientação ainda não foi posta em prática? Humm... Vamos esperar.

Espanha 1 x 3 França

Taí. Eu apostava que a Espanha iria mais longe nesse Mundial. Cairia diante do Brasil, acreditava. Porém, uma França ressurgiu das cinzas asiáticas disposta a mostrar que tem cacife para ir longe. Não se é campeã mundial à toa.

O jogo foi muito truncado, sem grandes liberdades para os atacantes. As duas defesas estavam muito sólidas. A diferença é que, enquanto a Espanha dominava territorialmente, a França fazia movimentos mais verticais e ousados. Os espanhóis amarelaram. Não finalizaram muito e, assim, não fizeram gols. Os franceses, experientes, foram mais pacientes e conseguiram seus gols naturalmente. Apesar de Henry, a quem o técnico deve fornecer urgentemente um livro explicando como funciona um impedimento. Ô jogador pra gostar de uma banheira...

***

A França é a responsável pela minha primeira e pela minha última decepção em Copas do Mundo. A mais recente é óbvia. A inaugural foi em 1986, quando Zico, Sócrates e Júlio César perderam os pênaltis que poderiam dar uma vaga ao Brasil nas semifinais. Vibrei muito com a classificação do time de Zidane. Esfrego as mãos esperando pelo frio instante da vingança...

... com um certo temor. Em 98, o time da França sofreu vários percalços na sua caminhada rumo ao título. Classificou-se em primeiro, mas sem agradar a torcida. Passou pelo Paraguai com um gol de ouro nas oitavas. Superou a Itália nos pênaltis nas quartas. Virou um jogo perdido contra a Croácia na semifinal. E, na boa, ganhou do Brasil num dia em que até a China de 2002 golearia o time de amarelo. Ou seja, a França evoluiu ao longo da Copa, e o fato se repete no torneio atual. Mesmo longe de casa, a torcida francesa certamente, em Frankfurt, será maioria (pela distância) e mais ruidosa (pela tradição e pelo que pouco se viu e ouviu dos brasileiros). Por fim, em confrontos em Copas, a França leva vantagem sobre o Brasil. Ou seja, é vencer os Bleus e partir pro hexa, sem volta.

27 de jun. de 2006

Penúltimas oitavas

escrito por Raphael Perret @ 21:22 0 comentário(s)

Itália 1 x 0 Austrália

Comecei torcendo pela Itália, já que os australianos praticam algo que lembra o futebol, mas que não é bem futebol.

Quando vi, no segundo tempo, que a Azzurra tinha um a menos e não conseguia emendar um contra-ataque, passei a desejar a prorrogação e um jogo cada vez mais emocionante. Até que o juiz me arruma um pênalti que não houve a favor da Itália, aos 48 do segundo tempo. Gol de Totti, bye, Austrália. O estranho é que os jogadores do time da Oceania não manifestaram muita bronca pela marcação do árbitro. Enfim...

Para Guus Hiddink, técnico da Austrália, o feitiço virou contra o feiticeiro com requintes de coincidência mórbidos. Em 2002, a Coréia do Sul, comandada pelo holandês, se classificou para as quartas-de-final com a ajuda da arbitragem ao derrotar a... Itália.

Suíça 0 x 0 Ucrânia (0 x 3 nos pênaltis)

Não pude assistir a esse jogo. Ainda bem. Os comentários que li e ouvi foram os mais tenebrosos possíveis. Até a disputa por pênaltis foi dolorosa: quatro das sete cobranças foram perdidas. O único benefício desta partida foi provar a todos que nem sempre uma boa defesa significa um bom futuro numa competição. A Suíça sai da Copa sem ter tomado um único gol. Tem seu mérito? Claro. Mas quando precisou fazer um deles, não conseguiu. Nem em três tentativas de cobrança de pênalti.

(Agora, imagine se fosse a Suíça a seleção vitoriosa com 3 a 0 nos pênaltis: nem nesta disputa ela veria seu goleiro buscar a bola nas redes...)

25 de jun. de 2006

Segundas oitavas

escrito por Raphael Perret @ 20:06 0 comentário(s)

Inglaterra 1 x 0 Equador

O problema dos jogos mata-mata em Copa do Mundo é que os times entram com muito medo. Então, as partidas ficam truncadas, até chatas, mesmo. As defesas ficam plantadas, o meio-campo não avança e o ataque se isola. Se o gol não sai rápido, as equipes pouco ousam. E vai ficando assim até um lance mais sortudo definir a partida.

Aconteceu assim no jogo entre Inglaterra e Equador. Os britânicos arriscavam os lançamentos para Wayne Rooney e sequer usavam sua grande arma, que é o chute de longa distância. Os sul-americanos entraram com o objetivo evidente de ficar atrás e emplacar um contra-ataque. Embora tenha mandado até bola na trave, o Equador não assustou muito. A Inglaterra teve o domínio do jogo, tocou mais a bola e conseguiu seu golzinho numa falta bem cobrada por Beckham. Depois, foi segurar com tranqüilidade e comemorar a passagem às quartas. Parabéns, de qualquer forma, ao Equador, que valorizou a vitória dos ingleses.

***

A cara de criança enfezada de Wayne Rooney com as marcações do juiz que não lhe favoreciam reforça a imagem de mimado do jogador, surgida quando atirou longe as chuteiras ao ser substituído na partida contra a Suécia. Descontada a recuperação delicada após uma fratura no pé, o queridinho dos ingleses ainda não mostrou muito serviço. Só potencial. O meio-campo está jogando muito mais do que o ataque, que já perdeu um Michael Owen anuladíssimo nas partidas por ele disputadas.

Portugal 1 x 0 Holanda

Mais dramática que Argentina x México e mais violenta e confusa do que qualquer outra do Mundial, esta partida é perfeita para criar uma rivalidade entre as duas seleções européias. Muitas faltas, quatro expulsões, cartões amarelos a torto e direito, trocas de "gentilezas" e até o abandono do espírito esportivo, que rendeu à Holanda vaias permanentes por parte dos portugueses e de qualquer outro torcedor que se manteve neutro até uns 30 do segundo tempo, quando os holandeses se recusaram a devolver uma bola que era de Portugal após uma paralisação do juiz, fato responsável pela intensificação do clima bélico que reinou em Nuremberg.

O contexto no primeiro tempo foi simples. O jogo estava equilibrado. A Holanda tocava mais a bola e, assim, chegava ao ataque. Portugal, mais habilidoso e veloz, imprimia um ritmo animado. Vantagem para o time de Felipão, que abriu o placar com Maniche. Porém, nossos amigos lusófonos tiveram duas desvantagens: a lesão de Cristiano Ronaldo, vítima de um chute criminoso de Boulahrouz, penalizado com um simples amarelo, e a expulsão de Costinha.

Tudo indicava que o segundo tempo seria alucinante, com a Holanda atacando em bloco e Portugal revidando com contragolpes rápidos. Os lances de futebol até aconteceram, mas os dois times "atacaram" e "revidaram" mutuamente. Boulahrouz acertou Figo com o braço e foi expulso. Houve a recaída antidesportiva da Holanda e Deco atingiu por trás um adversário. Levou um amarelo que, somado ao segundo, recebido quando o jogador impediu a cobrança de uma falta, lhe rendeu a expulsão. Muita catimba, muitas faltas e algum futebol, sem resultados: a Holanda finalizava mal as jogadas e Portugal aproveitava mal os contra-ataques. Sem os lances violentos, a partida teria tudo para entrar para a história. Sua eternização até aconteceu, mas, infelizmente, por motivos menos nobres.

***

Portugal chega às quartas-de-final e Felipão tem uma missão a cumprir muito semelhante à que enfrentou na Eurocopa de 2004. Naquela ocasião, enfrentou a Inglaterra nas quartas-de-final e passou para a fase seguinte nos pênaltis, depois de empate em 1 a 1 no tempo normal e 1 a 1 na prorrogação. Em seguida, despachou a Holanda por 2 a 1. No Mundial, em ordem diferente, os adversários são os mesmos que Portugal já superou há dois anos. Basta repetir a dose e enfrentar, esperemos, o Brasil nas semifinais da Copa de 2006.

24 de jun. de 2006

Primeiras oitavas

escrito por Raphael Perret @ 19:31 3 comentário(s)

Alemanha 2 x 0 Suécia

Alguém viu os suecos? Em 15 minutos, a Alemanha atropelou a Suécia. Vê-se nos donos da casa uma vontade de vencer inquestionável. Se eles perderem algum jogo, de antemão será injustiça. Trocaram suas limitações por uma garra incansável. E os jogadores alemães acabam por mostrar algum talento, seja nos lançamentos, seja nas tabelinhas. Com um equilíbrio perfeito, a Alemanha não deixou a Suécia jogar. Contou com a sorte ao seu lado, ao ver Lucic ser expulso e Larsson perder um pênalti. Um jogo que teve seu destino decretado no primeiro quarto do primeiro tempo e deu prosseguimento à luta germânica pelo tetra, com o empurrão maciço da torcida local.

Argentina 1 x 1 México (1 x 0 na prorrogação)

Enfim, um jogo dramático.

O México entrou defensivo, mas atacou nos cinco primeiros minutos e conseguiu seu gol. Por azar, sofreu o empate logo depois. Equilibrou o primeiro tempo, que até foi meio chatinho no seu final.

Na segunda etapa, a equipe mexicana mostrou-se mais disposta a segurar o empate. Com muita eficiência, não deu espaços ao ataque adversário, principalmente ao armador Riquelme, e anular Riquelme significa anular mais da metade do poderio argentino. O time sul-americano, por sua vez, pouco criou, mesmo depois com Tévez, Messi e Aimar, apesar do gol mal anulado nos acréscimos do segundo tempo. Pelo menos a defesa argentina foi sólida o suficiente para segurar a onda atrás. Com um poder ofensivo bem duvidoso, restou ao México torcer pelo relógio.

A Argentina mostrou força. Empatou quatro minutos depois de sofrer o gol, evitando o desespero de correr atrás do placar o tempo todo. Porém, demonstrou nervosismo ao ter um resultado que não era a vitória. Dominou a partida, mas não finalizou muito. Na prorrogação, conseguiu a vitória com um golaço de Maxi Rodriguez, daqueles de entrar para a história caso a Argentina se sagre tricampeã (toc, toc, toc).

***

Que beleza! Uma partida decisiva entre Alemanha e Argentina, pra repetir as finais de 1986 e 1990. No saldo, 1 a 1. Se no México os argentinos ganharam com absoluta justiça, eles se queixam do pênalti marcado na decisão da Copa da Itália. Hoje, a Alemanha tem a grande vantagem da torcida. Mas a Argentina tem um time mais talentoso. Quem não assistir é porque não gosta de futebol.

22 de jun. de 2006

O time é esse

escrito por Raphael Perret @ 22:33 0 comentário(s)

A exibição do Brasil hoje contra o Japão foi muito boa, principalmente se comparada às duas atuações anteriores. O time buscou o ataque o tempo todo (pelo menos antes de fazer 3 a 1), e as substituições que Parreira fez antes da partida mostraram que muitos dos considerados reservas têm condições de serem titulares, fácil, fácil. Seja pelo que representam individualmente, seja pela agilidade que dão ao esquema tático.

Cicinho e Gilberto são laterais que apóiam muito. Com Cafu (nem tanto) e Roberto Carlos (muito), o Brasil avança pelos flancos até a intermediária, gerando poucos cruzamentos da linha de fundo ou, pelo menos, de mais perto da área. Enquanto Cicinho é veloz, tem bom chute e sabe jogar pelo meio, dando origem a tabelinhas, Gilberto também é rápido e se posiciona bem para finalizar, conforme mostrou em seu gol e como já havia mostrado no Flamengo, Vasco e São Caetano. Em compensação, a zaga se sobrecarrega porque os adversários se aproveitam do constante apoio dos laterais, sobretudo o esquerdo.

Nesta ocasião, a entrada de Robinho ajuda na composição da defesa. Ué, como assim? O atacante do Real Madrid se movimenta MUITO, ajuda na marcação ainda que não desarme, e dificulta a saída de bola do adversário. Alivia a carga da dupla de volantes. Se um deles sabe jogar, como Juninho, a partida para o ataque fica mais rápida. Zé Roberto também é competente na investida ao ataque, mas não tem o talento criativo que Juninho tem - embora o pernambucano não tenha exibido sua habilidade em armar jogadas especificamente hoje, já que sua tarefa principal era ajudar a proteção à defesa.

No ataque, a movimentação constante de Robinho confunde a defesa adversária, e afrouxa a marcação sobre Ronaldo. Não à toa que o Fenômeno marcou dois gols e ainda teve outras possibilidades, frustradas graças ao bom goleiro japonês. A agilidade de Robinho também cria condições favoráveis ao futebol da dupla de armação. Ronaldinho Gaúcho ainda não brilhou, mas já criou jogadas bem interessantes hoje. Por outro lado, Kaká se isolou muito nas pontas e foi improdutivo, preferindo dar dribles bonitos sem objetividade. Entretanto, o saldo final foi positivo, com muitas finalizações perigosas da seleção.

Em resumo, a atuação do Brasil deixou o torcedor mais otimista. O ímpeto ofensivo aumentou, em detrimento de uma abertura de brechas na defesa, principalmente pelos lados. Se o preço de jogar bonito e fazer gols é sofrer alguns deles, então é isso aí. Só não podemos é levar mais do que marcar.

***

Não nos enganemos, pois. O time do Japão é uma baba. Horroroso. Fez um gol em boa trama, é verdade. O goleiro também evitou um gol mais cedo. Adversários como esse não devem mais aparecer na frente do Brasil nos próximos jogos. Gana é um time rápido, habilidoso e forte. Não vai ser fácil.

Mas, Parreira, por favor: tomar cuidado não significa acovardar. O time é esse de hoje. Basta ajustar a defesa no momento das investidas dos laterais.

20 de jun. de 2006

O pedido da galera

escrito por Raphael Perret @ 16:07 1 comentário(s)

Foto do Blog do Trivela na Copa:

Chegou a turma do funil

escrito por Raphael Perret @ 00:18 0 comentário(s)

A partir de terça-feira o mundo conhecerá os dezesseis times classificados para a segunda fase da Copa do Mundo e as chaves que determinarão o trajeto de cada um até a possível final, 9 de julho, em Berlim. Na última rodada da etapa classificatória, as seleções do mesmo grupo fazem seus jogos no mesmo horário, de amanhã (19) até sexta (23). Enquanto em alguns grupos os quatro times têm chance de seguir no Mundial, em outros já estão definidos os classificados, restando-lhes decidir quem ficará em primeiro e em segundo lugar, apontando um caminho mais claro para o seu futuro na Alemanha.

Vai, aqui, uma modesta análise do que pode acontecer nesses próximos jogos que darão muita emoção ao longo desta semana, por grupo. Uma informação fundamental que pode fazer diferença, especificamente nesta última rodada: muitas seleções vão poupar jogadores, seja por contusões, seja para evitar o segundo cartão amarelo dos pendurados e, assim, impedir um desfalque importante nas oitavas-de-final. Outro detalhe é o cruzamento dos times nas oitavas. É simples: A x B, C x D, E x F e G x H, sendo que o primeiro de um pega o segundo do outro. Para quem quiser saber como ficam as chaves dos jogos até a final, ofereço este modesto diagrama. Percebi que a maioria das tabelas não utiliza o formato "funil", mais interessante na visualização dos caminhos dos times na fase eliminatória.

Grupo A - enquanto Costa Rica e Polônia decidem quem terá tido a exibição mais micosa da chave, Equador e Alemanha disputam o primeiro lugar. Os sul-americanos têm a vantagem do empate, mas é claro que a Alemanha tem todas as condições de vencer, o que lhe dá, com qualquer placar, a liderança do grupo A. Não sei se é bom negócio fechar a primeira fase na ponta: quem chegar às oitavas nesta condição pode pegar a Argentina nas quartas-de-final. Se a Alemanha quer o título, não pode escolher adversário. Mas o Equador sonha com uma longa caminhada nesta Copa, e quanto mais tardio for um encontro com times como Brasil e Argentina, melhor.

Jogos: terça-feira, 20, às 11 horas (horário de Brasília).

Grupo B - os times desta chave entram em campo já sabendo quem se classificou no grupo A e, dependendo, podem evitar um confronto já nas oitavas com a anfitriã Alemanha. A informação pode influenciar o jogo entre Inglaterra, já qualificada, e Suécia. Um empate classifica ambas as seleções, com os britânicos em primeiro. Os suecos viram líderes se vencerem. Enquanto isso, Trinidad e Tobago joga todas as suas forças contra um lamentável Paraguai, precisando ganhar por mais de dois gols de diferença e torcer por uma vitória da Inglaterra. Muito difícil, embora haja outra motivação para os trinitários, que é marcar o primeiro gol do país em Copas.

Jogos: terça-feira, 20, às 16 horas (horário de Brasília).

Grupo C - as vagas estão 99,9% definidas. Argentina em primeiro, Holanda em segundo. A única mudança possível é a inversão das colocações, o que acontece apenas se os holandeses vencerem os portenhos por três ou mais gols de diferença. Impossível? Não. Mas... Sabe como é... Vamos conjecturar mesmo? Além disso, os dois times não devem estar muito preocupados com o adversário que virá do grupo D, já conhecido quando a reedição da final de 1978 começar. Ao mesmo tempo, Costa do Marfim tenta a primeira vitória na Copa sobre um combinado desmotivado de Sérvia e Montenegro, país que, hoje, nem existe mais no mapa-múndi.

Jogos: quarta-feira, 21, às 16 horas (horário de Brasília).

Grupo D - o segundo lugar pega a Argentina nas oitavas, enquanto o outro classificado só cruza com ela numa final. Logo, a briga vai ser dura pela liderança do grupo D. Portugal tem vantagem, porque pode empatar com o México. Por sua vez, os latino-americanos precisam vencer os portugueses para ficar em primeiro. Porém, basta-lhes o empate para, ao menos, continuar na Copa. E pasmem: até Angola tem chances de classificação. Precisa derrotar o Irã, eliminado, por três gols de diferença e torcer pela vitória da seleção do país que a colonizou.

Jogos: quarta-feira, 21, às 11 horas (horário de Brasília).

Grupo E - é, de longe, o grupo mais embolado. Os quatro times podem passar à segunda fase. A única certeza é que pelo menos um europeu chegará às oitavas. E um dos confrontos é exatamente entre os dois representantes do velho continente do grupo. À Itália basta um empatezinho, enquanto a República Tcheca precisa vencer para se garantir. Um empate até classifica os tchecos, mas eles passarão a depender do que acontecerá com Gana e Estados Unidos. Se os africanos vencerem, conquistam uma classificação histórica para seu país. Um empate só põe Gana na segunda fase se conjugado a uma vitória italiana. Já os EUA têm uma difícil missão: vencer e torcer pela Itália. Para não dependerem do placar do outro jogo, os norte-americanos precisam golear Gana por seis ou mais gols de diferença. Como todos os times apresentaram qualidades e foram irregulares nos dois primeiros jogos, não consigo arriscar um palpite. Ah, vale lembrar que o segundo lugar pega o Brasil, certamente o primeiro do grupo F.

Jogos: quinta-feira, 22, às 11 horas (horário de Brasília).

Grupo F - se o Brasil teve atuações decepcionantes nas duas primeiras partidas, o Japão foi, assim, desastroso. Assim, é difícil crer que a seleção pentacampeã perca para o time de Zico e deixe escapar o primeiro lugar. Os nipônicos têm alguma chance de se classificar: devem vencer o Brasil por um bom saldo de gols e torcer para que Austrália e Croácia empatem, com o placar mais baixo possível, ou que os croatas vençam, mas não por muito, por favor. Melhor está a Austrália, que passa às oitavas com um empate. A Croácia precisa vencer e não depende só dela, mas conta com um simples empate entre Brasil e Japão para se classificar. Segunda vaga em aberto, caindo levemente para o time da Oceania.

Jogos: quinta-feira, 22, às 16 horas (horário de Brasília).

Grupo G - tirando Togo, que já foi "tirado" pela arbitragem em sua última partida, os outros três times podem chegar à segunda fase. Pra variar, a França está na pior situação, porque precisa vencer os africanos e torcer para que não haja empate na outra partida. Se houver, Henry vai ter que trabalhar muito e ajudar seu time a construir uma vitória por mais de três gols de diferença e se classificar direto. Pra uma seleção que só marcou um gol depois da final de 1998, sei não... Suíça e Coréia do Sul entram em campo tranqüilas. Quem vencer chega à segunda fase. Um empate pode tirar a Coréia, que tem saldo pior e, dependendo do resultado de França x Togo, pode cair mesmo invicta. Por incrível que pareça, os suíços tem o canivete e o queijo nas mãos (hahaha, sou muito engraçado). Há dois detalhes importantes nesta análise. Primeiro, este grupo será o último a definir seus classificados, logo, os times entrarão em campo sabendo de seus eventuais caminhos das oitavas em diante. Segundo, o vice-líder pegará o vencedor do grupo H, provavelmente a Espanha, que tem se revelado um páreo duro, e, depois, tem grandes chances de cruzar com o Brasil nas quartas. Em compensação, o primeiro lugar do grupo G pega um adversário mais fácil nas oitavas e só pode enfrentar a Argentina na semifinal e o Brasil na final.

Jogos: sexta-feira, 23, às 16 horas (horário de Brasília).

Grupo H - a Espanha, classificada, garante o primeiro lugar com um simples empate com a Arábia Saudita, mas muito mais do que isso deve acontecer. A Ucrânia se recuperou da goleada da primeira rodada, melhorou o saldo e entra em campo podendo empatar com a Tunísia para garantir vaga nas oitavas. Não vejo estofo nos times asiático e africano para impedir os planos de Espanha e Ucrânia. A Tunísia até se classifica com uma simples vitória, enquanto a Arábia precisa vencer o melhor time do grupo, por muitos gols, e torcer para que a Ucrânia não vença, para ainda assim decidir a vaga no saldo de gols... Bem, vamos direto ao ponto: é Espanha em primeiro e Ucrânia em segundo. Ressalte-se que o vice-líder do grupo H segue o mesmo caminho do vencedor do grupo G, descrito aí em cima. Ou seja: é possível que, Copa adentro, a Ucrânia tenha um caminho mais fácil que o da Espanha.

Jogos: sexta-feira, 23, às 11 horas (horário de Brasília).

18 de jun. de 2006

Mais jogadinhas

escrito por Raphael Perret @ 22:20 0 comentário(s)

Afe, quanto jogo! Por que não instituem férias coletivas mundiais durante a Copa? Assim eu poderia escrever mais tranqüilamente sobre as partidas. Como vivo em outra dimensão e a fim de não ficar muito defasado, recorro novamente à burocrática técnica dos "toquinhos laterais". Não se zanguem, por favor. Afinal, passe para o lado também pode ser bonito. :-)

(1) Espanha 4 x 0 Ucrânia - se nas Copas anteriores a Espanha chegou com banca de favorita - sabe-se lá por quê - em 2006, sem a expectativa criada e com um time renovado, a Fúria causou estrago na Ucrânia: 4 a 0, com sobras e uma esperança deixada na porta dos lares espanhóis. Num grupo fácil e um provável adversário tranqüilo nas oitavas, a Espanha pode ir longe neste Mundial.

(2) Alemanha 1 x 0 Polônia - inauguraram-se a 2ª rodada e os jogos "dramáááááticos", que valem classificação ou resultam em eliminação. O primeiro deles não fugiu à regra. A Polônia se acovardou diante da seleção anfitriã, medíocre que só ela, porém incessantemente lutadora e perseverante, apoiada por uma inflamada torcida. O goleiro polonês Boruc queria evitar a derrota com defesas inacreditáveis. Depois de uma pressão sufocante, que rendeu duas bolas no mesmo ponto do travessão, Neuville fez o gol da vitória e que selaria a classificação, confirmada com a vitória do Equador no dia seguinte, aos 46 do 2º tempo. Dramático, sofrido, emocionante. Começava, de fato, a Copa do Mundo.

(3) Inglaterra 2 x 0 Trinidad e Tobago - o English Team continua acreditando que invadir a área oponente por baixo é contra as regras. Voltou ao velho estilo chuveirinho, buscando o jogo aéreo e a cabeça do grandalhão Crouch, e insistiu nos chutes de longe, sempre perigosos, sobretudo por parte de Lampard e Gerrard. No fim (literalmente), veja você, não é que a Inglaterra conseguiu? Um gol em cabeçada de Crouch (que, inusitadamente, puxou o cabelo do zagueiro Sancho para subir), outro num petardo de longa distância de Gerrard. A Trinidad e Tobago coube marcar o bom meio-campo inglês, com dureza mas sem a violência que os tornozelos suecos sentiram. Com um ataque inoperante, o time das Américas quase arranca um valente empate que lhe daria forças para conseguir uma incrível classificação, hoje difícil de ser obtida.

(4) Suécia 1 x 0 Paraguai - o Paraguai apostou que, se não perdesse para a Suécia, poderia classificar-se com uma vitória sobre Trinidad e Tobago. Optou por não se esforçar muito e fez um joguinho burocrático com os europeus. Mais interessada em melhorar sua situação o grupo B, a Suécia foi mais ofensiva. Com alguma técnica e pouca organização, os suecos tiveram mais chances de fazer o gol, o que conseguiram aos 44 do segundo tempo com Ljunberg, em bonita cabeçada. A postura covarde despachou o Paraguai para casa, e produziu um desempenho tão vexaminoso que nem uma goleada na última partida poderá apagar. Já a Suécia se classifica com um empate com a Inglaterra.

(5) Argentina 6 x 0 Sérvia e Montenegro - sortudos aqueles que presenciaram ou assistiram ao que aconteceu em 16 de junho de 2006, no Arena Aufschalke, em Gelsenkirchen, Alemanha. O placar não deixa dúvidas sobre a superioridade da Argentina. Porém, faz tempo que não via um time apresentar uma exibição tão perfeita de futebol. A defesa anulou qualquer tentativa de ímpeto sérvio-montenegrino. O meio-campo destruiu todo o posicionamento do adversário. E o ataque, composto pela dupla de frente, pelos volantes, pelos armadores e pelos laterais foi, simplesmente, mortífero. Um senso coletivo inigualável produziu toques certeiros, tramou jogadas lindas e resultou em golaços. Quando necessário e/ou possível, o talento individual emergiu para o público, como no belíssimo gol de Tevez. Aplausos de pé para a Argentina, responsável pela exibição mais primorosa da Copa até aqui. Brasileiros, tremei.

(6) Holanda 1 x 0 Costa do Marfim - o time africano merecia melhor sorte. Deu sinais de que poderia se recuperar de golpes como começar um jogo perdendo de 2 a 0. Em ambas as oportunidades, contra Argentina e Holanda, marcou um gol. No entanto, um jogo tem 90 minutos e uma equipe vence neste período de tempo. Fica a lição para 2010. Já a Holanda tem 90 minutos contra a Argentina para treinar contra-ataques. Nos seus dois jogos, fez os primeiros gols e limitou-se a se defender, sem êxito nos contragolpes. Pode ser que, nos próximos confrontos, a Holanda lamente muito um jogo que tinha nas mãos mas cuja vantagem não soube segurar.

(7) Rep. Tcheca 0 x 2 Gana - foi só elogiar a República Tcheca para ela fazer uma apresentação medíocre. A qualidade dos tchecos foi insuficiente para se igualar ao time de Gana, que superou o eventual nervosismo da estréia e fez um grande jogo no dia 17 em Colônia. Pôs os europeus na roda no segundo tempo, perdeu um pênalti e não desistiu mesmo com as seguidas difíceis defesas do goleiro Petr Cech. Os ganeses são velozes e habilidosos, capazes de classificar sua seleção para as oitavas.

(8) Itália 1 x 1 EUA - este foi um dos jogos mais violentos e tensos do Mundial. Dois americanos e um italiano foram expulsos. O primeiro tempo foi, simplesmente, pressão total dos EUA, embora o primeiro gol tenha sido marcado pela Itália. Apesar do sufoco norte-americano, precisou um italiano fazer um gol contra para salvar os EUA, num lance que deve entrar fácil para a história dos maiores micos das Copas do Mundo. O segundo tempo começaria com dez jogadores de cada lado, mas o time americano perdeu mais um. O jogo virou defesa contra ataque, porém foram os EUA que tiveram um gol anulado, enquanto a Itália não ultrapassava facilmente a muralha tricolor e, quando conseguia, parava no goleiro Keller. Final, 1 a 1, e um grupo E totalmente confuso e indefinido.

(9) Japão 0 x 0 Croácia - a pior partida que eu vi nesta Copa, disparado. Os japoneses não são apenas ingênuos. São ruins, mesmo. Erram passes de poucos metros e desperdiçam oportunidades de gol absurdas. Já os croatas não exibiram um décimo da dedicação com que se empenharam contra o Brasil. Até pênalti perderam. Falou-se no calor, mas sol forte não é motivo para justificar o péssimo futebol apresentado em Nuremberg. Lastimável.

17 de jun. de 2006

Estréia esperada

escrito por Raphael Perret @ 15:50 1 comentário(s)

Depois de 1970, digam-me quando uma estréia do Brasil em Copas foi tranqüila. Tirando 1994, que é a exceção que confirma a regra, todo primeiro jogo da seleção foi complicado. Só pra lembrar:

1974 - 0 x 0 Iugoslávia
1978 - 1 x 1 Suécia
1982 - 2 x 1 URSS (de virada, com o primeiro gol do Brasil aos 30 do 2º tempo)
1986 - 1 x 0 Espanha (com gol legítimo que não valeu para a Espanha)
1990 - 2 x 1 Suécia
1994 - 2 x 0 Rússia
1998 - 2 x 1 Escócia (graças a um gol contra escocês)
2002 - 2 x 1 Turquia (de virada, com gol de pênalti inexistente a favor do Brasil)

Logo, era ingênuo quem achava que o Brasil ia dar um sacode na Croácia. Aliás, o resultado foi ótimo para pôr os pés de todo mundo no chão. O oba-oba inflamado pela torcida e amplificado pela imprensa estava perto de contaminar os jogadores. Na primeira prova, o time exibiu mais falhas do que qualidades e mais timidez do que ousadia. Normal. E prudente. Se a equipe entrasse com empáfia, teria sido absorvida pelo clima de "já ganhou" e quem ganharia seria a Croácia.

O problema maior do Brasil foi o ataque, que inexistiu. Ronaldo e Adriano estavam dispersos, estáticos, sonolentos. O ferrolho croata exigia movimentação e os atacantes pesadões preferiram esperar bola no pé. A escolha sobrecarregou os demais jogadores. Kaká teve que chutar de longe várias vezes. Roberto Carlos, quando avançou, também chegou com perigo. Ronaldinho Gaúcho foi muito cobrado, porque não desfilou seu genial repertório de dribles e jogadas. Claro, não era possível contar com Ronaldo e Adriano. Logo, o melhor do mundo teve que segurar mais a bola, seu pecado mais freqüente, e, por isso, facilitou a marcação adversária. A entrada de Robinho no lugar de Ronaldo deu mais agilidade ao ataque e abriu o leque de possíveis jogadas, ainda que todas infrutíferas.

Na defesa, Juan e Lúcio não comprometeram e Dida esteve seguro. O avanço da Croácia no segundo tempo, suportado pela zaga, só foi possível porque os volantes não deram conta. Jogaram mal mesmo ou existe a necessidade de marcação por parte dos lados do quadrado mágico? Fãs do polígono, ponham as barbas de molho.

***

Ronaldo virou um caso à parte na análise do Brasil no jogo contra a Croácia. Ele é um tema misterioso e instigante. O cara já foi eleito o melhor do mundo três vezes, foi artilheiro pelos clubes por que passou, deu a Copa de 2002 ao Brasil com muitos gols e vários deles decisivos (fez o único da semifinal e todos da final), é um raro exemplo de força e superação, com grandes conquistas depois de contusões graves e sérias decepções... e ele não consegue, definitivamente, o carinho da torcida.

A vaia recebida na substituição no jogo foi um sintoma evidente de sua baixa popularidade. Um verdadeiro ídolo, mesmo em má fase, jamais seria apupado daquele jeito. No fundo, é uma maldade. Ronaldo não jogou bem, mas sua atuação também não beirou o patético. Jogou mal tanto quanto em outras vezes, tanto quanto outros jogadores. Talvez tenha sido o alvo mais adequado das vaias por ter sido o único substituído na partida.

Mesmo com um histórico respeitável e o apoio da mídia, Ronaldo sempre teve dificuldades de se firmar como ídolo. O problema o afeta tanto na seleção quanto no Real Madrid. É verdde que não produz jogadas brilhantes, mas faz gols. Se não tem a ginga do xará gaúcho, compensa com arrancadas e boa pontaria. Faltam-lhe carisma e personalidade. Uma invisível muralha o separa do afeto dos brasileiros, que endeusaram, com mais abertura, Romário, Robinho e o próprio Ronaldinho Gaúcho. Ou seja, torcedor não se desmancha com números e estatísticas, mas sim com um sentimento mais intangível, tão natural e espontâneo que nenhuma ação de marketing pode criar: a empatia.

Ronaldo é um grande jogador, mas carrega o peso (sem trocadilhos) de sua imagem superexposta, que só encontra receptividade na torcida se for balanceada com atuações proporcionalmente convincentes. Senão, sua onipresença na mídia só ajudará a desgastá-lo. Se quiser mesmo uma trégua, ou Ronaldo agüenta a pressão e supera mais um desafio como muitos outros que derrotou na carreira, ou trabalha para que lhe afastem os holofotes e lhe dêem uma exposição equivalente ao talento e qualidade que tem exibido.

13 de jun. de 2006

Toques precisos (para o lado)

escrito por Raphael Perret @ 11:44 2 comentário(s)

Em meio a almoços familiares, cerimônias de casamento, comemoração de dia dos namorados e tarefas isolativas do trabalho, assisti atropeladamente a alguns jogos da Copa. Vou tecer meus comentários bem ligeiramente, sem risco de ser leviano.

(1) Argentina 2 x 1 Costa do Marfim - o melhor jogo da Copa. Equilibrado, no qual prevaleceu a experiência e a habilidade dos sul-americanos diante da velocidade, força e afobação dos africanos. A atuação da Costa do Marfim mostrou que o grupo C é mais "da morte" ainda do que se imaginava.

(2) Sérvia e Montenegro 0 x 1 Holanda - apesar de ser descendente de uma escola técnica como a iugoslava, a Sérvia e Montenegro não apresentou nenhum futebol empolgante. Na verdade, nem a Holanda, da qual sempre se espera alguma coisa, em função da tradição em Copas. O melhor do jogo foi o autor do gol, Robben, que pode ser a revelação do Mundial. Corre muito, sabe driblar e chuta bem.

(3) Austrália 3 x 1 Japão - torci pelos nipônicos de Zico, o que não adiantou. O Japão parece nunca se livrar daquele ar de ingenuidade, de não ter a malícia necessária para segurar um jogo ganho. O placar algo dilatado pode atrapalhar muito os planos dos asiáticos. Já os australianos estão no céu. Se o Brasil ganhar de pouco hoje, nossos adversários de domingo estarão na liderança do grupo. Ah, e não acho que foi falta no goleiro.

(4) EUA 0 x 3 Rep. Tcheca - se Argentina e Costa do Marfim fizeram o melhor jogo, a República Tcheca foi a seleção que fez a exibição mais contundente. Impôs-se diante de uma seleção americana que não mostrou continuidade na evolução apresentada em 2002. Nedved comandou o time e toda a equipe é talentosa e segura. Acho que os tchecos vão aprontar.

(5) Itália 2 x 0 Gana - mais uma favorita estréia sem surpresas. Vi só o segundo tempo, quando o jogo já estava 1 a 0 para os italianos, e vi uma Gana querendo empatar, mas precisa treinar a pontaria se pretende algo mais nessa Copa. O tal pênalti não marcado pelo Simon me pareceu forçado pelo ganês.

Ah, e mais um detalhe antes da estréia do Brasil. Quando disseram que iam atrapalhar a conquista do Hexa, não estavam brincando. A notícia de que Cafu pode ser preso é nada mais do que palhaçada. Pode até ser verdade, mas é muito esquisito que venha da Itália, tradicional rival do Brasil, uma informação que pode desestabilizar a seleção brasileira. Vem jogo baixo por aí. Às vezes sutil, às vezes nem tanto.

10 de jun. de 2006

Defesa consistente... e azarada

escrito por Raphael Perret @ 15:23 5 comentário(s)


Gamarra (4) sobe para cortar cruzamento de Beckham e marca contra:
azar castiga o Paraguai


Inglaterra e Paraguai são duas seleções conhecidas pelas defesas consistentes. Uma é tradicional, a outra é mais moderna. Era de se esperar que o placar do jogo tivesse poucas alterações no decorrer dos 90 minutos.

Desta vez, tanto um time quanto o outro possuem qualidades à frente da zaga. O meio-campo britânico é talentoso, acerta os passes e tocam a bola até com uma certa elegância. Já o ataque paraguaio é formado por dois bons jogadores, Roque Santa Cruz e Valdéz.

No jogo, prevaleceram a força da camisa inglesa e a superioridade do meio-campo da seleção européia. O primeiro tempo foi dominado inteiramente pela Inglaterra. O Paraguai jogou muito recuado, tímido, medroso até. Os britânicos se impuseram e chegaram mais perto do gol. O time de Beckham só não fez mais porque, como disse um amigo meu, durante a Copa de 98, a Inglaterra não tem atacante, tem meio-campo ofensivo. A análise é pertinente se transplantada pro jogo de hoje. Crouch parece que vai se espatifar a qualquer momento, de tão desengonçado que é. E Owen teve uma atuação completamente nula. Além disso, na frente da área paraguaia, os jogadores ingleses só assustavam quando chutavam de longe. No máximo, executavam sua centenária jogada de cruzamento. Pena que tinham à frente uma defesa bem qualificada, que teve muita infelicidade no lance do gol.

Cientes de que poderiam empatar, os paraguaios tomaram conta da partida. Imprensaram a Inglaterra na área e seu ataque era mais ousado do que o adversário, ao tentar penetrações verticais que os ingleses não experimentaram em todo o jogo. O problema é que Roque Santa Cruz estava apático. Valdéz, extremamente afoito, jogou por dois e, assim, não tinha condições de superar a sólida muralha inglesa. O técnico Aníbal Ruiz fez boas substituições que aperfeiçoaram o posicionamento do Paraguai, mas nada capaz de marcar o gol. Neste cenário, a Inglaterra fez o que lhe cabia - e o que sabe fazer: jogou atrás, e partia pro contra-ataque, alavancado pelos ótimos passes de Beckham e Lampard, visando apenas aos chutes de fora da área.

Fim de papo, a Inglaterra mostrou algum talento, mas um ataque capaz de ser anulado com alguma facilidade. Já o Paraguai tem condições de jogar melhor do que hoje, se mantiver a calma e entrosar o ataque. Algumas mudanças no time titular podem ajudar.

(Inglaterra 1 x 0 Paraguai, Frankfurt, primeira fase da Copa do Mundo)

***

Embora o jogo não tenha sido dos mais pacíficos, os ingleses sofreram quedas e aparentaram muita dor em choques pouco ou nada violentos. Pode ter sido coincidência ou até mesmo cera, mas pareceu que tem alguma coisa errada na preparação física dos jogadores da Inglaterra.

9 de jun. de 2006

Prólogo animador

escrito por Raphael Perret @ 16:59 1 comentário(s)


O alemão Klose começa a Copa de 2006 igual ao Mundial da Ásia: como artilheiro


Um jogo com seis gols é um bom preâmbulo de uma Copa. Se todas as partidas tiverem, pelo menos, a agitação nas redes que teve a abertura da Copa, já teremos garantia de alguma emoção. Porque se a categoria dos times for semelhante à de Alemanha e Costa Rica, vai ser difícil agüentar ver a maioria dos 64 jogos.

Eu até esperava menos da Alemanha. Seu retrospecto não animava nem os torcedores mais bêbados da Bavária. Mas admito que vi uma ou outra qualidade no time germânico. Schneider sabe tocar a bola e o ataque conseguiu costurar uma outra jogada que não fosse o clássico chuveirinho. Pra quem não viu, saber que nenhum dos quatro gols foi de cabeça chega a ser inacreditável. A Alemanha mostrou que chuta bem de longe, atributo que lhe valeu dois golaços, os de Lahm e Frings.

Entretanto, há de se admitir: a Costa Rica é uma baba. O meio-campo organizou dois bons ataques que deixaram Wanchope na cara de Lehmann - graças, também, à desorganizada defesa alemã. E só. O time de Alexandre Guimarães não inspira nenhum medo no adversário. No máximo, pode alegar que enfrentava a anfitriã na estréia da Copa e, por isso, a postura tímida era a mais adequada. Porém, a Costa Rica não deu mostras de que pode causar estragos alheios.

(Alemanha 4 x 2 Costa Rica, Munique, primeira fase da Copa do Mundo)

8 de jun. de 2006

As Copas que vivi (II) - 1990

escrito por Raphael Perret @ 00:36 5 comentário(s)


Ricardo Rocha e Mauro Galvão não conseguem evitar o toque de Maradona para Caniggia no Mundial da Itália: triste fim de uma seleção perdida, simbólico início do futebol-business


Pensando bem, o título deste post está inadequado. O Mundial de 1990 foi uma Copa que não vivi. Para comprovar, volto a 1986. Sou capaz de lembrar todos os gols do Brasil e seus autores. Natural, a primeira Copa a gente nunca esquece. Então, avancemos até a Itália, palco do espetáculo quatro anos depois. Mudança de década, de presidente, de faixa etária.. Se os brasileiros se frustravam com as medidas insanas de Fernando Collor, eu experimentava intensas mudanças hormonais, próprias da puberdade. Tudo era confuso, fosse no âmbito privado, fosse na esfera pública.

E no mundo da esfera principal, isto é, a bola, as coisas também fugiam da normalidade. Depois de uma classificação dificultada pelas armações chilenas, que incluíram uma guerra em Santiago e um providencial abandono de campo causado por um foguete que caiu a metros do goleiro Rojas, no Rio de Janeiro, o Brasil ia à Copa sem despertar uma confiança ampla, geral e irrestrita. Também, com Eurico Miranda como chefe de delegação, Sebastião Lazaroni como técnico e Müller como atacante titular em detrimento de Bebeto, Romário (vá lá, machucado) e Renato Gaúcho, o que esperar de bom da seleção?

O ambiente estava contaminado. Empresários discutiam contratos na concentração e uma briga com a patrocinadora Pepsi obrigou os jogadores a posar para a foto oficial cobrindo com a mão a marca da companhia estampada no agasalho. A intervenção do business no símbolo maior do esporte brasileiro foi a pedra fundamental da era do futebol de negócios, que recrudesceria ao longo dos anos seguintes, com um pouco mais de discrição, mas não menos sutil. Basta reparar que, a partir de 1990, pelo menos 10 jogadores convocados para a seleção pertenceriam a clubes do exterior, enquanto nas Copas de 82 e 86, apenas dois atletas eram considerados "estrangeiros".

Dentro de campo, o escrete não empolgou. Derrotou Suécia (2 a 1), Costa Rica (1 a 0) e Escócia (1 a 0), três sufocos, sem convencer, sem produzir jogadas marcantes, sem fazer muitos gols, sem dar mostras de que poderia, em algum momento, encantar. Ao contrário: sua única capacidade era atemorizar os torcedores com uma saída precoce da Copa. Por mais paradoxal que pareça, a definição do adversário seguinte era, de certo modo, um alívio: a então campeã Argentina.

O confronto sul-americano só aconteceu nas oitavas porque o time de Maradona fez uma péssima primeira fase, classificando-se em terceiro lugar do seu grupo de quatro seleções. A Argentina abriu a Copa perdendo de 1 a 0 para a surpresa daquele Mundial, o time de Camarões. O resultado era tão inimaginável que desconfiei de meu colega de 6ª série, portando um walkman, ao lhe perguntar, durante a aula de matemática, quanto estava a partida. Depois, os russos sofreram na mão do juiz sueco Erik Fredriksson, que lhes surrupiou um pênalti, ao ignorar um toque proposital do braço de Maradona dentro da área argentina, e que deu continuidade a um lance em que um portenho foi derrubado, segurou a bola com os braços e deixou Burruchaga roubá-la com os pés, para marcar o segundo gol da vitória da Argentina por 2 a 0, numa jogada típica de pelada infanto-juvenil. Por fim, ainda me vem à cabeça a imagem de um Maradona se ajoelhando no gramado e agradecendo a Deus um suado empate com a Romênia em 1 a 1, valendo a passagem para as oitavas.

Diante de um adversário com um retrospecto desses, o Brasil só tinha a temer o nome e a tradição de seu maior rival. A seleção entendeu o contexto e fez sua melhor exibição na Copa contra a Argentina. Dominou o jogo inteiro, mandou três bolas na trave e perdeu diversas chances. Azar? Sim. Incompetência? Também. O time foi incapaz de conter a progressão de Maradona e o lançamento para Caniggia, livre, fazer o gol da classificação aos 36 minutos do segundo tempo. Um gol que impôs o silêncio na sala da casa da minha avó, onde dividimos, eu e ela, sós, a torcida pelo Brasil em todos os jogos daquele torneio. Sem batuque, sem bandeiras, sem festas. Como a Copa do Mundo de 1990 exigia.

***

Se o Mundial já não empolgava nem nos jogos do Brasil, que dirá nos demais confrontos. Os mais memoráveis foram os que envolviam Camarões. Nas oitavas, contra a Colômbia, Roger Milla rouba a bola dos pés do folclórico Higuita que, claro, estava adiantado, e faz um gol visualmente antológico. Em seguida, os africanos fazem um jogo de arrepiar com a Inglaterra: 3 a 2 conquistados na prorrogação pelos britânicos, com duas viradas de cada equipe. Não lembro disso, mas um amigo conta que os camaroneses, já perdendo, insistiam em tocar bonito. Para quem não tem compromisso com a conquista do título, exibir um futebol vistoso não era um luxo, mas um prazer lúdico.

A evolução de Camarões na Copa de 1990 assinalou o início da maturidade do futebol africano, processo que, hoje, ainda não chegou ao seu final.

***

Mesmo as semifinais disputadas por quatro seleções campeãs mundiais (Itália, Argentina, Alemanha e Inglaterra) não me entusiasmei com a seqüência da Copa sem Brasil e Camarões. Lembro-me das seguidas classificações da Argentina nos pênaltis, graças à boa atuação do goleiro Goycochea. Lembro-me das sofridas vitórias italianas por 1 a 0 com gols de um reserva, Totó Schilacci, que se tornaria o artilheiro do Mundial. Lembro-me dos poucos gols de todas as partidas da fase eliminatória.

Não pude assistir à final entre Alemanha e Argentina porque estava em trânsito, no banco de trás do carro dos meus pais. Não podia oferecer resistência, seja lá qual fosse o destino. No fundo, nem queria. Conformei-me em ouvir a partida no walkman. Vitória germânica, placar mínimo, gol de penalidade máxima, sobre o outrora herói Goycochea. Desfecho mais apropriado, só uma decisão por pênaltis vencida por 1 a 0. Ufa. Acabava uma Copa da qual somente o povo alemão se lembrará com verdadeira comoção e alegria.

7 de jun. de 2006

As Copas que vivi (I) - 1986

escrito por Raphael Perret @ 00:19 1 comentário(s)


O goleiro francês Bats defende o pênalti batido por Zico: 16 começava a virar 20


Oscar, Sócrates, Falcão, Júnior e Zico. Boa parte da famosa seleção de 1982 vestia a amarelinha no México, quatro anos depois. E eu com isso? Porque não vivi a tragédia do Sarriá e não chorei quando Paolo Rossi marcou o terceiro gol da Itália, não criei expectativas sobre a epopéia brasileira no Mundial de 1986. Na verdade, não tinha a noção exata do que era uma Copa do Mundo aos sete anos de idade.

Mas foi nessa idade que eu descobri.

Copa do Mundo é estar na casa dos tios, repleta de gente, formada por primos e desconhecidos, torcendo pelo Brasil contra a Espanha, ver as pessoas se abraçando, gritando e comemorando com um ardor nunca visto um gol da seleção, num lance chorado (Sócrates, com uma faixinha na cabeça à la Renato Gaúcho, usou o cocoruto pra enfiar a bola no fundo da rede, depois que ela se chocou com a trave e o chão) e num jogo sofrido, com direito a gol espanhol não marcado pelo árbitro e tudo.

Copa do Mundo é estar na casa de outros tios, repleta de gente, formada por primos e desconhecidos, torcendo pelo Brasil contra a França, ver as pessoas celebrando o gol de Careca, xingando Platini pela autoria do primeiro (e único) gol sofrido pela seleção e respirando fundo e engolindo seco a defesa de Bats na cobrança de pênalti de Zico, do nosso mestre Zico.

Copa do Mundo é frustar-se, chorar, lamentar, gritar, diante dos pênaltis perdidos de Sócrates e Júlio César na disputa fatal, diante da bola que entra após um francês chutá-la na trave e vê-la chocar-se na cabeça do goleiro Carlos, e diante do pênalti bem batido pro Fernandéz, que despacha o Brasil e aumenta o jejum de títulos mundiais, automaticamente, de 16 para 20 anos.

Copa do Mundo é empolgar-se com uma seleção-sensação como a Dinamarca, que venceu os três jogos de um grupo com dois campeões mundiais (Alemanha e Uruguai, este humilhado por um 6 a 1), e desenganar-se numa goleada de 5 a 1 sofrida diante da Espanha, nas oitavas-de-final.

Copa do Mundo é o momento da consagração de um gênio, que em um jogo e dois lances, registrou seu nome em qualquer enciclopédia do futebol. Sou feliz pela oportunidade de ter assistido a Argentina 2 x 0 Inglaterra, à arte e à travessura de Maradona, ao seu gol de mão, que só ganhou notoriedade por ter acontecido num Mundial, e ao seu gol de placa, iniciado no campo de defesa, onde o extraordinário mostrou velocidade, domínio absoluto da bola e precisão incontestável.

Copa do Mundo é o evento em que o livro da história do futebol fica generosamente aberto para que os deuses, os gênios, as paixões e o acaso registrem os lances, os gols e os momentos marcantes para sempre.

Copa do Mundo é mágica.

Eu aprendi em 1986.

4 de jun. de 2006

Timão longe de ser equipe

escrito por Raphael Perret @ 23:08 0 comentário(s)


O bom atacante Nilmar lamenta mais uma de suas chances perdidas: o Corinthians afunda


O técnico rubro-negro, Ney Franco, afirmou: "vamos buscar os pontos fora de casa". Pelo menos o time do Flamengo atuou de forma coerente com a declaração do treinador. O primeiro tempo foi equilibrado e tanto Flamengo quanto o Corinthians chegaram perto do gol, mas não concluíram bem. Veio o segundo tempo e, numa boa jogada pela esquerda, o rubro-negro fez 1 a 0 com Peralta. O Corinthians passou a ter mais volume, atacou incessantemente, mandou duas bolas na trave, mas sempre de forma desorganizada. Só não teve muito perigo porque o Flamengo não tem o menor cacoete para contra-ataque: os jogadores são pesados, erram muitos passes e, quando acertam, são para trás. Ainda assim, Obina acertou um belo chute de fora da área e fechou o placar.

Não que a defesa do Flamengo tenha tido uma atuação segura: fez uma apresentação séria, rechaçando a bola sempre que ela aparecia. E o Corinthians sofre os reflexos de contratações malucas e de uma direção rachada e perdida. Sobra para Geninho e para os jogadores, esforçados que só eles, porém incapazes de dar qualquer sentido à palavra "equipe".

(Corinthians 0 x 2 Flamengo, Morumbi, São Paulo, 04/06/2006, décima rodada do Campeonato Brasileiro)

***

Nem sempre um zero a zero significa um jogo ruim ou com poucas chances. Santos e Botafogo não fizeram gol - válido, porque o juiz anulou um legítimo do time paulista - mas criaram oportunidades. Não muito no primeiro tempo, quando os dois times chegaram bastante à área adversária e falhavam no último toque, na finalização, sem assustar os goleiros. Entretanto, na segunda etapa, Santos e Botafogo aprimoraram os passes e, aí sim, deram trabalho a Lopes e Fábio Costa, respectivamente. Os técnicos tiveram seus méritos, ao fazer substituições e modificações no esquema tático de suas equipes. Principalmente Luxemburgo, que pôs Rodrigo Tiuí, autor de três conclusões perigosas para o Santos e do gol invalidado. Ruim para o Santos, que alcançaria o quarto lugar, bom para o Botafogo, que abandonou a zona do rebaixamento.

(Santos 0 x 0 Botafogo, Vila Belmiro, Santos, 04/06/2006, décima rodada do Campeonato Brasileiro)

***

Goleiros costumam ser privilegiados em disputas de bola no alto. Raramente um juiz deixa de marcar falta a favor da defesa quando há um choque entre o guarda-metas e um atacante, mesmo que ele seja casual.

Acontece que, em Caxias do Sul, a falta sobre o goleiro Bosco chegou a ser grotesca. Ele foi deslocado pelo braço do lateral Lino, que subiu como se fosse um pássaro de asas abertas, e não pôde alcançar a bola que caía do alto. Não há o que questionar na regra sobre o que é falta no goleiro. Falta é falta, e aquilo foi falta. Pra compensar, o árbitro inventou um pênalti sobre Danilo que rendeu ao São Paulo o empate na Serra Gaúcha e a perda da liderança para o Cruzeiro.

(Juventude 1 x 1 São Paulo, Alfredo Jaconi, Caxias do Sul, 04/06/2006, décima rodada do Campeonato Brasileiro)

***

Esta "intertemporada" será uma freada de arrumação dos times. Quem estiver machucado poderá se recuperar, poderá haver transferências de jogadores e todos treinarão muito.

O Flamengo viverá uma situação inusitada. Seu time titular no Brasileiro não disputará as finais da Copa do Brasil, porque vários de seus jogadores já participaram do torneio. Antes da decisão, porém, a equipe enfrentará, pelo Brasileiro, o Paraná e, curiosamente, seu adversário na Copa do Brasil, o Vasco da Gama. Se poupar, nesses dois jogos, o time para as finais - o que acho um absurdo, já que os jogadores virão de um mês sem entrar em campo e não podem decidir um título sem ritmo de jogo - poderá dar entrosamento aos titulares que não disputam a Copa do Brasil. Caso Ney Franco prefira pôr em campo o time que brigará pelo título, terá que rearrumar tudo para a volta dos titulares após a Copa do Brasil. Esta situação não acontece com o Vasco, o que dará mais tranqüilidade a Renato Gaúcho.

Já o São Paulo ganhará um bom número de dias para pôr ordem nos eixos. Não que esteja em momento ruim no Brasileiro. Apenas teve menos tempo para treinar desde o ano passado, em função do Mundial de Clubes. Muricy poderá dar um descanso aos jogadores e pô-los revigorados quando julho chegar, momento em que disputará, ao mesmo tempo, a liderança do campeonato nacional e a vaga nas semifinais da Libertadores, contra o Estudiantes. Por situação semelhante passa o Internacional, que também luta por ascensão nos dois torneios.

***

Curiosidades rápidas do Brasileirão.

- 10 rodadas, 100 jogos. Em 50, ou seja, na metade exata, os mandantes venceram. Houve 26 vitórias dos visitantes e 24 empates. O fator "casa" ainda é importante, mas não atemoriza mais os clubes. Duas hipóteses para este panorama: o equilíbrio dos times e a necessidade crescente da vitória. Os mandantes fizeram 154 gols e sofreram 107.

- 261 gols, média de 2,61 gols por partida. Na quinta rodada (curiosidades dela aqui), ela era de 2,54. Subiu. Esperemos que continue com esta inclinação. A rodada com melhor média de gols foi a sétima, 3,8 por jogo. Nela, em seis partidas foram marcados quatro ou mais gols.

- O Cruzeiro é líder e um dos times mais eficientes. Tem o melhor ataque (20 gols), o melhor saldo de gols (+12), foi o que mais venceu (6 vitórias, igual a Flu, Inter e São Paulo) e o que menos perdeu (apenas uma vez, tal qual o Internacional).

- Já o Santa Cruz e o Palmeiras dividem as piores estatísticas. Os pernambucanos têm o pior ataque (6 gols) e compõem o único time que não venceu no campeonato. O Verdão é a pior defesa (24 gols), quem mais perdeu (8 vezes) e tem o pior saldo de gols (-15).

- Entre os mandantes (incluindo a ordem estabelecida nos clássicos), o São Paulo tem 100% de aproveitamento, com cinco vitórias em cinco jogos. Além dele, estão invictos em casa o Cruzeiro (melhor ataque em casa, 13 gols), Santos e Flamengo. Têm os piores aproveitamentos diante de sua torcida Santa Cruz (3 pontos), Corinthians (3 pontos), Palmeiras (4) e Vasco e Atlético-PR (6 pontos cada).

- O Internacional é o visitante que mais dá trabalho. É o único invicto quando joga fora de casa e conquistou 11 pontos nessa condição. É seguido pelo Cruzeiro e Figueirense (8 pontos cada) e por um pelotão de seis times com 7 pontos. Santa Cruz e Palmeiras perderam todas que disputaram fora de casa, enquanto o São Caetano arrancou um ponto e o Fortaleza, dois. Curiosamente, o tricolor cearense, junto com o Botafogo, foram os times que menos sofreram gols como visitantes: três, cada um.

Agora, comparações com o Brasileiro de 2005.

- Até a décima rodada do campeonato do ano passado (110 jogos, incluindo aqueles anulados pelo STJD apitados por Edílson Pereira de Carvalho, já que, até aquele momento, os resultados eram válidos), a média de gols era de 2,78, contra os 2,61 deste ano.

- A líder era a Ponte Preta, que terminou o campeonato em décimo-oitavo lugar, ou seja, o último clube a ficar na Série A. Atrás dela estavam Fluminense (que ficou em quinto), Internacional (segundo) e Botafogo (nono). O campeão de 2005, Corinthians, estava em oitavo. Voltando a 2006, lideram o campeonato Cruzeiro, Inter, São Paulo e Fluminense. Em oitavo está o Figueirense.

- Na décima rodada, estavam entre os rebaixados, do 19º ao 22º, Flamengo, Vasco, Atlético-MG e Atlético-PR. Destes, somente o time mineiro caiu para a Série B, acompanhado por Paysandu (que estava em 17º), Brasiliense (14º) e Coritiba (7º).

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Pronto. Agora é Copa!

1 de jun. de 2006

Falta de assunto é um problema

escrito por Raphael Perret @ 16:36 1 comentário(s)

Pronto. Vários jogadores da seleção foram flagrados cometendo um crime hediondo. Divertiram-se em uma boate após a goleada de 8 a 0 sobre Lucerna (até agora não entendi se isso é um time ou um combinado, porque cada veículo dava uma denominação diferente). Agora já era, perdemos a Copa. Punição severa aos bandidos.

Façam-me o favor. Desde quando a imprensa é mãe de jogador? O que ganha ou perde a sociedade ao saber o que fazem os atletas em seu momento de folga? Que relevância tem isso para a conquista do Mundial?

Polêmicas falsas como esta só demonstram que, na temporada pré-Copa do Mundo, assunto é o que falta. E inventam-se tolices.