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Tentando dar alguma razão à emoção do futebol

25 de set. de 2006

Baixo nível

escrito por Raphael Perret @ 14:59 0 comentário(s)

Virou lugar-comum dizer que o Campeonato Brasileiro está nivelado, e por baixo. Mas como negar e, pior, como não repetir isso, para provar que o futebol no Brasil passa por uma crise técnica?

Demonstrar o equilíbrio é mole. Vejam a tabela após a vigésima-sexta rodada. São 20 times. O melhor dos rebaixados hoje tem 30 pontos. O oitavo lugar da tabela, próximo da zona da Libertadores, tem 36 pontos. Duas vitórias separam o céu do inferno. Uma combinação de resultados simples transforma uma fase ruim em ótima. E vice-versa. Se invertermos a tábua de classificação, reparamos que o líder tem 49 pontos e está distante do sexto lugar em onze pontos. O vice-líder tem 45 pontos e, depois das duas próximas rodadas, garante no máximo uma quinta posição. Conclusão: enquanto há três ou quatro times que ainda almejam o título e uma colocação decente, todos os outros têm chances razoáveis de cair para a Série B e probabilidades consideráveis de ficar entre os dez primeiros e ganhar, no mínimo, uma vaga na Sul-Americana.

Comprovada a igualdade dos times, resta identificar o porquê deste nivelamento. Muitos fatores contribuem para a pobreza do futebol apresentado pelos participantes do campeonato: treinadores defensivistas, uso do recurso das faltas, êxodo de jovens jogadores para o exterior, participação de muitos atletas veteranos... Todo este panorama é resultado direto de um conjunto de ações e estratégias realizadas ao longo da história recente do futebol no Brasil e que culminou nestes jogos modorrentos, repletos de passes errados, faltas ridículas e chutes tortos. E tenho certeza de que a diminuição da qualidade do futebol, cada vez mais burocrático e robotizado, reduziu o interesse do torcedor, dando espaço para que os marginais tomassem conta dos estádios.

Medidas de todo o tipo são necessárias. Emergenciais, como aplicação de mais rigor na coibição de faltas. Saneadoras, como a transformação dos clubes em empresas e a profissionalização completa de dirigentes e jogadores. As providências se fazem urgentes, antes que o futebol perca o interesse dos patrocinadores e da televisão, principais fontes de renda dos clubes. E o esporte mais popular do Brasil correrá o risco, mesmo que em muitos anos, de perder o posto de elemento de identificação nacional.

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O próprio São Paulo, líder com todos os méritos, parece não jogar com tanta alegria. Tem um futebol eficiente, encaixado, mas sem vibração e fluidez. Pode até ser campeão e tem tudo para isso. Porém, será um perfeito representante deste futebol chatinho que tem sido apresentado nos estádios brasileiros. Não surpreende, pois, que o maior ídolo dos torcedores do São Paulo seja o goleiro do time.

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Fácil, fácil apontar dois problemas graves que o Flamengo tem.

Um é o lateral-esquerdo titular. Fraco, deixa espaços para o adversário, não sabe cruzar, faz faltas tolas e desnecessárias e se esqueceu de calibrar seus chutes depois que fez o gol da vitória sobre o Vasco, na decisão da Copa do Brasil. Lembremos que ele teve participação decisiva nas duas últimas derrotas do time. Contra o Internacional, perdeu facilmente uma bola no meio-campo. No contra-ataque, o time gaúcho sofreu um pênalti e empatou o jogo que depois viraria. Na partida diante do Santos, ontem, inaugurou uma avenida através da qual o ataque santista marcou seus três gols.

O outro é o preparo físico dos jogadores. Peguemos os oito últimos jogos do Flamengo. O time fez 11 gols e sofreu 12. No segundo tempo dessas partidas, marcou apenas duas vezes e levou dez.

Não sei quantos são os dirigentes e os integrantes da comissão técnica. Ninguém na Gávea percebe a queda de rendimento após o intervalo?

18 de set. de 2006

Laboratório Returno

escrito por Raphael Perret @ 18:02 3 comentário(s)

Dos 20 times que disputam o Campeonato Brasileiro, o Flamengo é o único que não tem nenhum grande objetivo neste momento. O título já era. Na Libertadores, já está. E, por isso mesmo, não poderá brigar pela Sul-Americana. Resta ao Rubro-Negro lutar pra não cair, pra variar. Se jogar um pouquinho do que pode, já está de bom tamanho.

Porém, o segundo semestre pode ser um bom laboratório para a comissão técnica e a diretoria definirem como será o time de 2007, que disputará o torneio mais importante do continente. Exatamente porque o elenco atual é fraco e pode passar vergonha na Libertadores, o Flamengo precisa estar atento às suas deficiências, lapidar melhor as suas promessas e, o mais fundamental, fazer contratações decentes. Em 2002, ano da última participação do clube na competição, os cartolas trouxeram Leonardo e Juninho Paulista, prometeram um timaço e o Flamengo só obteve uma vitória em seis jogos.

Nos últimos tempos, a diretoria até fez uma boa aquisição. O goleiro Bruno é bem mais seguro que Diego, sai do gol com eficiência e sabe repor a bola com ofensividade. Além disso, a Gávea produziu um talentoso meia-atacante. Renato Augusto, mais próximo da área, tem produzido grandes jogadas e aumentou a eficiência do ataque, com mais chutes e, pasmem, mais gols. Assim, até Obina vira artilheiro do time, o que aconteceu neste domingo, contra o Fortaleza, na suada vitória do rubro-negro por 4 a 3.

Claro que é pouco. A defesa continua com seus erros, os laterais caíram de produção e Renato só tem aparecido nas cobranças de falta. Todos compõem um time capaz de vencer um torneio caseiro, mas duvidoso quando as pretensões se tornam maiores. Que os próximos jogos do Flamengo sirvam como experiência para que 2007 seja um ano pelo menos mais emocionante aos torcedores rubro-negros.

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O Vasco consegue contradizer todos os comentaristas que afirmam que, em um campeonato de pontos corridos, não se pode empatar. Pois bem: o time de São Januário empatou quatro jogos seguidos e permanece na zona da Libertadores (pelo menos enquanto o Inter estiver à sua frente). Que Renato Gaúcho não durma no ponto. Os outros times também são incompetentes e não conseguem subir. Um panorama que poderá não se repetir nas próximas rodadas.

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E o Grêmio, como quem não quer nada, com o crédito destruído pela sua recém-ascensão da Série B, já é o vice-líder. Nos últimos onze jogos, ganhou oito, empatou dois e perdeu um. Uma arrancada espetacular e premiada com a segunda colocação. Um tricolor de camisa sagrada e gloriosa não pode ser desprezado. Louvemos o trabalho de Mano Menezes e da diretoria, que não apenas retirou o Grêmio da Segundona rapidamente como já pôs o time e a auto-estima dos torcedores na altura. Retrospecto capaz de esquecer as agruras de 2004.

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Goiás, São Caetano, Fortaleza e Santa Cruz cairiam para a Segundona se o Brasileiro terminasse hoje. Seria a primeira vez, na era dos pontos corridos, que nenhum campeão brasileiro seria rebaixado.

14 de set. de 2006

Um Flu x Bota inesquecível

escrito por Raphael Perret @ 23:56 4 comentário(s)

Tá, exagerei. Daqui a alguns anos nem todos os tricolores e botafoguenses se lembrarão do segundo jogo da primeira fase da Copa Sul-Americana de 2006. Mas, fosse uma decisão, a partida seria épica, tamanha a quantidade de ingredientes que lhe dariam tal característica.

Aos 35 do segundo tempo, o 0 a 0 classificava o Fluminense. Um zagueiro alvinegro é expulso. Portas abertas à segunda fase para o tricolor. Que se fecharam quando uma bola marota de Júnior César, em cobrança de falta, parou dentro do gol de Diego. Era o Botafogo, Glorioso, em busca da internacionalidade perdida.

A coisa ficou mais tranqüila quando Rissut levou seu vermelho e acabou com a vantagem numérica do Flu. Os botafoguenses já cansavam de debochar do Fluminense quando, aos 48 do segundo tempo, Marcão empata o jogo e leva a decisão aos pênaltis. Naquele momento, o Fluminense ganhava moral.

Seria apenas uma decisão por pênaltis, mas William, do Botafogo, colocou-a na história. Na tentativa de enganar - ou até humilhar - o goleiro Diego, deu um chute fraquinho, fraquinho, claramente de propósito, mas mirando o canto, onde o arqueiro não pudesse alcançar a bola. Porém, o chute saiu quase reto, para a direita. Com a pouca força, Diego caiu para o lado oposto, recuperou-se e agarrou a bola que vinha mansinha para os seus braços. O gol perdido foi fundamental para a vitória do Fluminense por 4 a 2 e a eliminação do Botafogo.

Um pênalti que merece ser eternizado no YouTube.

10 de set. de 2006

Brasileiro interessante

escrito por Raphael Perret @ 20:19 6 comentário(s)

Vi dois jogos hoje e achei que o campeonato está ficando interessante. O São Paulo tem perdido pontos fáceis, enquanto o Internacional sobe com vitória atrás de vitória, mostrando um poder de reação impressionante, mesmo depois da perda de jogadores fundamentais, como Tinga, Jorge Wagner e Rafael Sóbis. O Santos não toma jeito e mantém a irregularidade, mas como Grêmio e Vasco também não se emendam, continua, junto com os dois, no pelotão de frente. A diferença é que o Vasco está longe dos quatro primeiros e perto de quem vem atrás: Paraná, Figueirense e Juventude estão, no máximo, a três pontos do time de São Januário. Enquanto o título está praticamente definido entre São Paulo e Inter, a briga pelas duas vagas na Libertadores promete ser dura.

No lado de baixo, a rotatividade é maior. Flamengo entrou na rodada passada e conseguiu sair dela. A Ponte Preta ganhou um alívio no sábado ao derrotar o Santa Cruz, mas retornou à zona da morte com os resultados de domingo. Corinthians, Atlético-PR e Goiás continuam ameaçados. Tal qual na liderança, dois times também parecem fadados a um destino certo, se não tomarem providências urgentes: em pleno naufrágio, Fortaleza e, principalmente, Santa Cruz estão cada vez mais distantes da superfície.

E outros times podem entrar nas piores perspectivas para o futuro. O Fluminense não ganha há oito jogos e, sabe-se lá como, está em décimo lugar, num declínio forte. Coladinho a ele está o Cruzeiro que, nos 12 jogos depois da Copa, venceu apenas dois deles. Para quem era favorito, o time mineiro e o tricolor carioca vão ter que fazer milagre para corresponder às expectativas que, hoje, são tidas somente pelos mais otimistas torcedores.

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Tudo bem. Eu nem esperava uma atuação soberba do Corinthians. O time contrata três (bons, é verdade) jogadores e Leão já os escala como titulares. Pela qualidade, entende-se, a preço de um desentrosamento que pode ser fatal, diante do líder do campeonato. Então o estreante César faz uma falta idiota em Souza, no campo de ataque corintiano, e é corretamente expulso pelo juiz. A perda do jogador muda todo o esquema tático de Leão, destroçado de vez quando Eduardo Ratinho também leva o vermelho, ainda no primeiro tempo. Foi fácil imaginar que uma goleada semelhante à do ano passado (São Paulo 5 a 1) poderia se repetir.

Mas o São Paulo jogou com uma indolência incompreensível. Como na partida contra o Flamengo, achou que poderia vencer quando bem entendesse. Produziu pouquíssimo diante de um time com dois a menos e ainda tomou algum calor em contra-ataques do Corinthians, que se desfaziam facilmente com tão pouca gente a enfrentar três zagueiros e mais Rogério Ceni.

Os pontos perdidos hoje no Morumbi podem custar caro ao São Paulo, que vê seu próximo adversário, o Internacional, colar-lhe nas costas. Se o Colorado repete o placar da primeira final da Libertadores, partida disputada no Morumbi, como a do próximo domingo, os dois times empatam na liderança e será uma reviravolta no campeonato. E a outrora confortável vantagem do São Paulo se transformará em distância a recuperar.

Ao Corinthians, o ponto conquistado foi um presente tricolor, e que valeu a garra dos jogadores que defenderam a equipe com extrema dedicação, e só porque dois colegas irresponsáveis tornaram a disputa numericamente desigual.

(São Paulo 0 x 0 Corinthians, Morumbi, São Paulo, 10/09/2006, vigésima-terceira rodada do Campeonato Brasileiro)

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Um Flamengo desacreditado e um Botafogo desfalcado fizeram um belo jogo hoje no Maracanã. Veloz do início ao fim, com boas chances para os dois times. O Botafogo sentiu falta de Zé Roberto e falhou muito nas finalizações. Já o Flamengo, ao contrário do que demonstrou nas últimas partidas, criou oportunidades e aproveitou bem duas delas. As desperdiçadas já são habituais à torcida.

Destaque para Renato Augusto, que hoje jogou mais avançado, colado no ataque, e produziu ótimas jogadas, como aquela que originou o primeiro gol; Luizão, que lutou sem parar; e Bruno, excelente goleiro, que em dois jogos passou uma tranqüilidade e segurança que Diego, em quase dois anos como titular, nunca transmitiu, embora tenha suas qualidades.

Só espero que a derrota, normal diante de um rival, não abale o Botafogo, que fazia bonita arrancada rumo ao bloco da frente.

(Botafogo 0 x 2 Flamengo, Maracanã, Rio de Janeiro, 10/09/2006, vigésima-terceira rodada do Campeonato Brasileiro)

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Por que a Globo transmite clássicos paulistas realizados em São Paulo para São Paulo e não faz o mesmo nas outras cidades, nos jogos entre dois times locais?