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Tentando dar alguma razão à emoção do futebol

7 de jun. de 2006

As Copas que vivi (I) - 1986

escrito por Raphael Perret @ 00:19


O goleiro francês Bats defende o pênalti batido por Zico: 16 começava a virar 20


Oscar, Sócrates, Falcão, Júnior e Zico. Boa parte da famosa seleção de 1982 vestia a amarelinha no México, quatro anos depois. E eu com isso? Porque não vivi a tragédia do Sarriá e não chorei quando Paolo Rossi marcou o terceiro gol da Itália, não criei expectativas sobre a epopéia brasileira no Mundial de 1986. Na verdade, não tinha a noção exata do que era uma Copa do Mundo aos sete anos de idade.

Mas foi nessa idade que eu descobri.

Copa do Mundo é estar na casa dos tios, repleta de gente, formada por primos e desconhecidos, torcendo pelo Brasil contra a Espanha, ver as pessoas se abraçando, gritando e comemorando com um ardor nunca visto um gol da seleção, num lance chorado (Sócrates, com uma faixinha na cabeça à la Renato Gaúcho, usou o cocoruto pra enfiar a bola no fundo da rede, depois que ela se chocou com a trave e o chão) e num jogo sofrido, com direito a gol espanhol não marcado pelo árbitro e tudo.

Copa do Mundo é estar na casa de outros tios, repleta de gente, formada por primos e desconhecidos, torcendo pelo Brasil contra a França, ver as pessoas celebrando o gol de Careca, xingando Platini pela autoria do primeiro (e único) gol sofrido pela seleção e respirando fundo e engolindo seco a defesa de Bats na cobrança de pênalti de Zico, do nosso mestre Zico.

Copa do Mundo é frustar-se, chorar, lamentar, gritar, diante dos pênaltis perdidos de Sócrates e Júlio César na disputa fatal, diante da bola que entra após um francês chutá-la na trave e vê-la chocar-se na cabeça do goleiro Carlos, e diante do pênalti bem batido pro Fernandéz, que despacha o Brasil e aumenta o jejum de títulos mundiais, automaticamente, de 16 para 20 anos.

Copa do Mundo é empolgar-se com uma seleção-sensação como a Dinamarca, que venceu os três jogos de um grupo com dois campeões mundiais (Alemanha e Uruguai, este humilhado por um 6 a 1), e desenganar-se numa goleada de 5 a 1 sofrida diante da Espanha, nas oitavas-de-final.

Copa do Mundo é o momento da consagração de um gênio, que em um jogo e dois lances, registrou seu nome em qualquer enciclopédia do futebol. Sou feliz pela oportunidade de ter assistido a Argentina 2 x 0 Inglaterra, à arte e à travessura de Maradona, ao seu gol de mão, que só ganhou notoriedade por ter acontecido num Mundial, e ao seu gol de placa, iniciado no campo de defesa, onde o extraordinário mostrou velocidade, domínio absoluto da bola e precisão incontestável.

Copa do Mundo é o evento em que o livro da história do futebol fica generosamente aberto para que os deuses, os gênios, as paixões e o acaso registrem os lances, os gols e os momentos marcantes para sempre.

Copa do Mundo é mágica.

Eu aprendi em 1986.

1 Comentários:

Em 11:11, Blogger Daniel F. Silva falou...

Eu também aprendi naquele ano, Raphael. Eu tinha a mesma idade em 1986 (quer dizer, completaria sete anos dali a alguns meses) e, mesmo assim, me lembro de cada imagem que vi daquele Mundial.

Assim como das reuniões com a família durante as partidas (nem precisariam ser da Seleção), o desfile pelas ruas para comemorar os 4 a 0 sobre a Polônia e a frustração com a eliminação pela França. Naquela época, aprendi a exata noção do que significa viver cada emoção intensamente.

 

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