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Tentando dar alguma razão à emoção do futebol

17 de jun. de 2006

Estréia esperada

escrito por Raphael Perret @ 15:50

Depois de 1970, digam-me quando uma estréia do Brasil em Copas foi tranqüila. Tirando 1994, que é a exceção que confirma a regra, todo primeiro jogo da seleção foi complicado. Só pra lembrar:

1974 - 0 x 0 Iugoslávia
1978 - 1 x 1 Suécia
1982 - 2 x 1 URSS (de virada, com o primeiro gol do Brasil aos 30 do 2º tempo)
1986 - 1 x 0 Espanha (com gol legítimo que não valeu para a Espanha)
1990 - 2 x 1 Suécia
1994 - 2 x 0 Rússia
1998 - 2 x 1 Escócia (graças a um gol contra escocês)
2002 - 2 x 1 Turquia (de virada, com gol de pênalti inexistente a favor do Brasil)

Logo, era ingênuo quem achava que o Brasil ia dar um sacode na Croácia. Aliás, o resultado foi ótimo para pôr os pés de todo mundo no chão. O oba-oba inflamado pela torcida e amplificado pela imprensa estava perto de contaminar os jogadores. Na primeira prova, o time exibiu mais falhas do que qualidades e mais timidez do que ousadia. Normal. E prudente. Se a equipe entrasse com empáfia, teria sido absorvida pelo clima de "já ganhou" e quem ganharia seria a Croácia.

O problema maior do Brasil foi o ataque, que inexistiu. Ronaldo e Adriano estavam dispersos, estáticos, sonolentos. O ferrolho croata exigia movimentação e os atacantes pesadões preferiram esperar bola no pé. A escolha sobrecarregou os demais jogadores. Kaká teve que chutar de longe várias vezes. Roberto Carlos, quando avançou, também chegou com perigo. Ronaldinho Gaúcho foi muito cobrado, porque não desfilou seu genial repertório de dribles e jogadas. Claro, não era possível contar com Ronaldo e Adriano. Logo, o melhor do mundo teve que segurar mais a bola, seu pecado mais freqüente, e, por isso, facilitou a marcação adversária. A entrada de Robinho no lugar de Ronaldo deu mais agilidade ao ataque e abriu o leque de possíveis jogadas, ainda que todas infrutíferas.

Na defesa, Juan e Lúcio não comprometeram e Dida esteve seguro. O avanço da Croácia no segundo tempo, suportado pela zaga, só foi possível porque os volantes não deram conta. Jogaram mal mesmo ou existe a necessidade de marcação por parte dos lados do quadrado mágico? Fãs do polígono, ponham as barbas de molho.

***

Ronaldo virou um caso à parte na análise do Brasil no jogo contra a Croácia. Ele é um tema misterioso e instigante. O cara já foi eleito o melhor do mundo três vezes, foi artilheiro pelos clubes por que passou, deu a Copa de 2002 ao Brasil com muitos gols e vários deles decisivos (fez o único da semifinal e todos da final), é um raro exemplo de força e superação, com grandes conquistas depois de contusões graves e sérias decepções... e ele não consegue, definitivamente, o carinho da torcida.

A vaia recebida na substituição no jogo foi um sintoma evidente de sua baixa popularidade. Um verdadeiro ídolo, mesmo em má fase, jamais seria apupado daquele jeito. No fundo, é uma maldade. Ronaldo não jogou bem, mas sua atuação também não beirou o patético. Jogou mal tanto quanto em outras vezes, tanto quanto outros jogadores. Talvez tenha sido o alvo mais adequado das vaias por ter sido o único substituído na partida.

Mesmo com um histórico respeitável e o apoio da mídia, Ronaldo sempre teve dificuldades de se firmar como ídolo. O problema o afeta tanto na seleção quanto no Real Madrid. É verdde que não produz jogadas brilhantes, mas faz gols. Se não tem a ginga do xará gaúcho, compensa com arrancadas e boa pontaria. Faltam-lhe carisma e personalidade. Uma invisível muralha o separa do afeto dos brasileiros, que endeusaram, com mais abertura, Romário, Robinho e o próprio Ronaldinho Gaúcho. Ou seja, torcedor não se desmancha com números e estatísticas, mas sim com um sentimento mais intangível, tão natural e espontâneo que nenhuma ação de marketing pode criar: a empatia.

Ronaldo é um grande jogador, mas carrega o peso (sem trocadilhos) de sua imagem superexposta, que só encontra receptividade na torcida se for balanceada com atuações proporcionalmente convincentes. Senão, sua onipresença na mídia só ajudará a desgastá-lo. Se quiser mesmo uma trégua, ou Ronaldo agüenta a pressão e supera mais um desafio como muitos outros que derrotou na carreira, ou trabalha para que lhe afastem os holofotes e lhe dêem uma exposição equivalente ao talento e qualidade que tem exibido.

1 Comentários:

Em 19:50, Anonymous Anônimo falou...

Ah não, perret. A atuação do ronaldo nao beirou o patético pq patético seria até elogio 'praquilo lá'. Ele só correu uma vez em 68 minutos: pra ser substituído.

 

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