BlogBola

Tentando dar alguma razão à emoção do futebol

29 de jul. de 2006

Fazendo justiça

escrito por Raphael Perret @ 13:03 1 comentário(s)

Reli meu post O que querem Flamengo e Vasco da vida?, escrito antes da final, e quero fazer justiça. No artigo, disse que os jogadores do Vasco demonstravam algum respeito à camisa que envergavam, ao contrário dos atletas rubro-negros, que andaram nas primeiras partidas pós-Copa e antes da Copa do Brasil.

Nos dois jogos decisivos, porém, o Flamengo deixou claro que a cabeça dos jogadores estava na Copa do Brasil. Eles atuaram com o coração, pulmões e fígado. Disciplinados taticamente, aplicados fisicamente. Lutaram do início ao fim. Obina, por exemplo, tentava dividir bola recuada ao goleiro Cássio aos 40 do segundo tempo do segundo jogo. O Vasco também foi valente e lutou, enquanto teve pernas e confiança na virada.

Com apenas um torneio, é possível que o Flamengo volte a jogar com dedicação para subir na tabela. Já o Vasco tem a Sul-Americana, que pode lhe render alguns dividendos e valorização. Com os times medianos que ambos têm, a vontade de vencer é fundamental.

28 de jul. de 2006

Os dias seguintes

escrito por Raphael Perret @ 21:08 1 comentário(s)

Quem viu o jogo, prestou atenção. Quem não viu, já está sabendo. O Flamengo mandou. Do início ao fim. Levou um susto ou outro. Só pra dar alguma esperança. Esperança destruída na expulsão de Valdir Papel e nas substituições mal efetuadas pelo técnico do Vasco. Título merecidíssimo, prêmio de uma campanha praticamente irretocável, com várias goleadas, vitórias na base da raça e apenas uma derrota, ocorrida num confronto já decidido. Depois de tanto insistir com três finais perdidas, o Flamengo conquista o bicampeonato da Copa do Brasil. Os rivais procuram desmerecer a taça. Mas aposto que lamentam quando a perdem.

Parabéns, Flamengo.

E obrigado. ;)

(Vasco 0 x 2 Flamengo, Maracanã, Rio de Janeiro, 26/07/2006, segundo jogo da final da Copa do Brasil)

***

Para muitos, o título em si, conquistado pela segunda vez na história, foi o mais saboroso. O Flamengo é o único time carioca a tê-lo.

Para outros, o que valeu foi ganhar um campeonato sobre o maior rival, e pela sexta vez consecutiva. A torcida ganhou um hexa (o hexa-vice do Vasco) que o Brasil não trouxe da Alemanha.

Para mim, o melhor de tudo foi a vaga na Libertadores. O lugar do Flamengo, por sua grandeza, por sua torcida, por seu patrimônio, por sua marca, é no mundo. Tanto quanto livrar-se das dívidas, é fundamental que o clube recupere seu prestígio internacional, saboreado rapidamente nos anos 80. A presença global do Flamengo lhe dará patrocínio, dinheiro, reforços, valor.

As seguidas gestões amadoras talvez não enxerguem isso - e, por isso mesmo, contentam-se em vencer torneiozinhos regionais. Mas acredito que, um dia, uma administração profissional saberá valorizar a inestimável marca que é o Flamengo.

E a proposição vale para qualquer clube grande do Brasil.

***

As entrevistas de Ney Franco, depois do título, são as mais conscientes possíveis. Espantosa a sua racionalidade. Ao mesmo tempo que anima na torcida, mantém-na com os pés no chão.

Primeiro: diz que em oito, nove rodadas o time estará brigando pelas primeiras posições do Brasileiro. Tudo bem, tem cara de bravata, mas a promessa leva a torcida ao estádio e convida-a a apoiar o time e estimula os jogadores, fazendo-lhes acreditar na "virada". Com aplicação, sim, é possível. São poucos os times realmente melhores que o Flamengo. Os outros são do mesmo nível.

Segundo: afirma que o planejamento para a Libertadores 2007 deve começar já. Perfeito. Não adianta se classificar para o torneio mais importante da América do Sul para fazer figuração e despedir-se na lanterna do grupo, como em 2002. A diretoria e a comissão técnica precisam levantar as falhas e as necessidades do time, ao mesmo tempo que se recupera no Brasileiro. Será que ele me leu?

Aos poucos, Ney Franco demonstra competência e profissionalismo. Torçamos para que esteja surgindo mais um bom técnico no Brasil.

***

Do outro lado, Renato Gaúcho chegou a comover pela tristeza com que encarou a perda do título. Mesmo sem citar nomes, criticou duramente seus jogadores e demonstrou muita raiva pelo que chamou de inacreditável (a expulsão de Valdir Papel aos 16 minutos do primeiro tempo do jogo decisivo) e indisciplina (alguma atitude de Valdiram, segundo especula a imprensa). De cabeça fria, precisa tomar algumas atitudes e relevar outras. Suas declarações revelam alguma intransigência, mas também expõem sua decepção com derrotas, atributo que anda ausente em muito jogador.

27 de jul. de 2006

Amanhã eu falo

escrito por Raphael Perret @ 01:23 2 comentário(s)

25 de jul. de 2006

Vibração é necessário, mas insuficiente

escrito por Raphael Perret @ 23:02 0 comentário(s)


Dunga aprenderá a ser técnico de futebol na escola mais rigorosa do mundo


Atribuam qualquer pecha pejorativa a Dunga, menos a de não ter afinidade com a seleção. Poucos escreveram seu nome na história ao participar de três Copas do Mundo, sendo capitão em duas delas, campeão em uma e vice em outra. Estigmatizado como responsável pela derrota na Copa de 1990, Dunga manteve o crédito com os treinadores e foi titular nos dois Mundiais seguidos. Sua liderança e vibração foram determinantes para assumir o posto de capitão em 1994 e, conseqüentemente, levantar a taça de campeão do mundo. O sucesso foi suficiente para mantê-lo no comando do time quatro anos depois, um pouco mais polêmico - por "exagerar" nas cobranças, segundo os companheiros.

Como jogador, Dunga foi sempre firme na marcação, nunca desleal, jamais violento. Era vibrante, valente e lutador. Compensava a limitação de talento criativo com muita raça. Por tudo isso, era exemplo de jogador de seleção para uns e considerado um estorvo por tantos outros.

A mesma divisão na torcida Dunga causará ao topar ser o técnico da seleção brasileira. Motivos não faltam para tanta desconfiança. É muito arriscado que um novo treinador comece a trabalhar exatamente com o time que sofre a maior pressão do mundo? E Dunga, ex-volante, vai preferir um time com preocupações predominantemente defensivas ou vai explorar o melhor do futebol brasileiro?

A grande esperança dos simpatizantes de Dunga na seleção é a sua famosa vibração e raça. Os dois atributos foram considerados as maiores ausências do Brasil que disputou a Copa de 2006, e um treinador conhecido pela garra seria fundamental para reinjetar ânimo e vontade de jogar nos atletas. Muito justo. Mas um treinador vibrante não joga, e precisa de muito mais do que gritos para motivar jogadores. Basta ver Felipão, considerado um exemplo no Mundial. De fato, o técnico de Portugal torce, reclama, grita, participa do jogo. Mas nas últimas partidas da Copa a seleção lusa não demonstrou aquela vibração necessária para suplantar adversários como Inglaterra e França. Ou seja, é preciso muito mais do que garra.

É preciso experiência. Dunga foi um grande capitão, mas a liderança que exercia era dentro de campo. Como técnico, lidará com muitas outras questões, desde administrativas até táticas e estratégicas. Preparar a seleção brasileira depois de uma Copa perdida tão inimaginavelmente não é a melhor escola para que Dunga aprenda a comandar um time. A falta de tarimba pode ser compensada pelo conhecimento futebolístico e pela seriedade do novo treinador do Brasil. E, também, pelo apoio da torcida, na qual se inclui este blog. Boa sorte, Dunga!

23 de jul. de 2006

O primeiro (de ontem) é o último (de hoje)

escrito por Raphael Perret @ 22:58 1 comentário(s)


Tévez manda a torcida corintiana se calar: e ela tem motivos para ficar quieta?


Corinthians, Fortaleza, Palmeiras e Santa Cruz começaram esta nova etapa do Brasileiro, depois da Copa do Mundo, na zona de rebaixamento. Depois de três rodadas, os quatro times permanecem entre os últimos. Porém, os desempenhos de cada um deles foram bem diferentes.

Santa Cruz e Palmeiras, por exemplo, venceram os três jogos que disputaram. Dentre os resultados, o Verdão derrotou o Timão, num clássico regional, e o tricolor pernambucano humilhou o Fortaleza por 4 a 1, em casa. Não à toa que os derrotados citados, neste momento, são os lanterninhas.

O Fortaleza ainda buscou dois pontos fora de casa (um contra o próprio Corinthians). Já a única conquista do time mais popular de São Paulo, até agora, foi esse empatezinho sem-vergonha no Morumbi. Com sabor de vitória, aliás, porque teve que empatar um jogo que perdia e ainda viu o Fortaleza dominar nos quinze minutos finais.

A decadência do Corinthians é bem curiosa. O time campeão de 2005 manteve as principais estrelas - Tévez, Carlos Alberto, Roger - contratou um selecionável - Ricardinho - repatriou um craque do passado - Marcelinho - e, mesmo assim, amarga um período doloroso, culminando com a lanterna alcançada nesta 13ª rodada.

Está claro que as confusões da diretoria e a pressão da torcida, intolerável em determinados momentos, como no caso da reunião (?) com o técnico Geninho, também são determinantes para a má fase de uma equipe. Entretanto, quando um time com jogadores talentosos perde tanto, fica seis partidas sem marcar um golzinho e é dominado facilmente por qualquer adversário, é porque a concentração está muito longe da mente dos atletas.

Domingo tem Santa Cruz x Corinthians. O Arrudão vai ter gente sentada no gramado pra ver o Tricolor sair da zona do rebaixamento e afundar o "galático" time do Parque São Jorge.

***

O Flamengo fez o certo. Dono de uma boa vantagem para a decisão mais importante do ano, para que levar o time titular ao Recife, expor-se a um resultado ruim e perder moral para a finalíssima de quarta-feira? A derrota dos reservas já era esperada. O Santa Cruz acordou depois da Copa do Mundo e tem, agora, três vitórias seguidas, que o tiraram da lanterna e o aproximam do oxigênio. É verdade que os 3 a 0 de hoje deixam o Flamengo perto do sufoco. Mas: 1) o time tem um jogo histórico na quarta-feira; 2) dá pra se recuperar nas 25 rodadas seguintes. É só ter concentração.

(Santa Cruz 3 x 0 Flamengo, Arruda, Recife, décima-terceira rodada do Campeonato Brasileiro)

***

O Vasco fez o certo. Pôs os titulares na partida de hoje do Brasileirão. Precisa mudar a sua principal tática, o contra-ataque, se quiser conquistar a Copa do Brasil. Pôde adaptar o time à nova estratégia num jogo antes da decisão, contra o Atlético-PR, em São Januário. Como não viajaria, o desgaste foi menor. Foi uma escolha de alto risco: algum jogador poderia se machucar e um empate ou derrota diminuiriam a esperança do vascaíno mais otimista. Só que apostas também dão certo. O Vasco venceu, conseguiu crédito com a torcida e, ainda, com uma espantosa combinação de resultados, galgou o oitavo lugar do Campeonato.

Ânimo renovado, quarta-feira tá aí!

(Vasco 2 x 1 Atlético-PR, São Januário, Rio de Janeiro, décima-terceira rodada do Campeonato Brasileiro)

***

Nada como ter um bom elenco nas mãos. O São Paulo se deu ao luxo de escalar um time reserva contra a Ponte Preta em Campinas, vencer por 3 a 1, manter a liderança e abrir quatro pontos de vantagem para o segundo colocado. Assim, pode concentrar-se tranqüilamente nos jogos da semifinal da Libertadores que, mesmo que perca o confronto no Brasileiro contra o Santos, a ser realizado entre as duas partidas da competição sul-americana, permanece em primeiro. A fase é excelente para o Tricolor, rumo ao tetra. Tanto no Brasileiro quanto na Libertadores.

(Ponte Preta 1 x 3 São Paulo, Moisés Lucarelli, Campinas, décima-terceira rodada do Campeonato Brasileiro)

20 de jul. de 2006

Domínio transformado em vitória

escrito por Raphael Perret @ 00:52 1 comentário(s)


Obina beija a camisa que honra com raça e empenho: fundamental na ótima vitória rubro-negra


Primeiro tempo nervoso.

Ney Franco arriscou. Colocou em campo uma formação que treinou só meia hora, com três zagueiros e Luizão isolado na frente. A idéia era boa. O Vasco, como sempre, jogou atrás, recuadão, a fim de explorar os contra-ataques, sua principal jogada. Assim, o Flamengo poderia liberar os laterais sem se expor às investidas vascaínas.

O rubro-negro dominou o território. No início, teve dificuldades. Os laterais estavam tímidos e eram pouco explorados. Jogando pelo meio, o Fla era dominado facilmente pela defesa vascaína. Em meio a tantos defensores, Luizão vinha buscar jogo e ajudava a tumultuar o meio-campo. Até uns 20 do primeiro tempo o Vasco chegou perto do gol, aproveitando a subida dos alas, sempre nos contra-ataques e na cobrança de faltas. Depois, o Flamengo se acertou, anulando as investidas do Vasco, desinibindo os laterais e acertando mais as tabelas. Do meio do primeiro tempo pro final, assustou Cássio, principalmente em cabeçadas de Luizão.

Segundo tempo mais decisivo.

O cenário era parecido. O Vasco começou mais na frente. Porém, uma contusão do zagueiro Renato Silva fez Ney Franco voltar ao 4-4-2. O técnico colocou Obina no lugar do defensor. A mudança foi significativa. Logo Obina fez um golaço, de primeira, da entrada da área, que alterou o desfecho do jogo. O time cruzmaltino teve que partir pra cima. Na primeira exposição, Leonardo Moura avançou pela direita e pôs a bola na cabeça de Luizão, que voltou a jogar bem e esforçadamente numa decisão, como de praxe.

Daí pra frente, o Flamengo segurou o jogo com certa facilidade. O Vasco assustou apenas com uma bola na trave numa falta cobrada pro Andrade. Diego não trabalhou muito, no fim das contas.

2 a 0 Flamengo, um perfeito retrato da partida.

***

O gol de Obina, que abriu o caminho da vitória, é um grande prêmio para o jogador. Nas duas primeiras partidas do Flamengo depois da Copa, foi ele o atleta mais empenhado em ajudar o time. Hoje, fez um lindo gol, lançou Leonardo Moura no segundo e incomodou demais a zaga vascaína. A torcida reconhece a raça de quem a tem e, não à toa, gritou seu nome quando estava prestes a entrar. Está nas graças dos rubro-negros.

Impecável também foi a atuação de Fernando. O blog é crítico recorrente do zagueiro, mas dá a mão à palmatória. Nota 10 para o jogador.

***

O segundo jogo será muito diferente. O Vasco não poderá lançar mão de sua estratégia de contra-ataques, porque precisa tirar a vantagem de dois gols do adversário. Ao Flamengo, é preciso treinar muito os contragolpes, que foram poucos e, quando existiram, foram pouco incisivos.

(Flamengo 2 x 0 Vasco, Maracanã, Rio de Janeiro, primeiro jogo da final da Copa do Brasil)

16 de jul. de 2006

O que querem Flamengo e Vasco da vida?

escrito por Raphael Perret @ 23:34 2 comentário(s)


Flamengo e Vasco prontos para decidir vaga na Libertadores


Os dois clubes começam a decidir a Copa do Brasil na quarta-feira e, ao mesmo tempo, uma vaga na Taça Libertadores da América, que terá novamente pelo menos um time do Rio de Janeiro depois de cinco anos. Um alento para o futebol carioca, tão sofrido com os desvarios dos dirigentes e a indigência das equipes que montam nos clubes que comandam. Entretanto, uma pergunta se faz pertinente agora: Flamengo ou Vasco vão disputar o maior torneio sul-americano com o que têm hoje?

Em 27 de julho, no dia seguinte à conquista da Copa do Brasil, o vencedor tem todo o direito de celebrar o título. Porém, é salutar que, neste mesmo dia, comece a pensar seriamente no que pretende para o ano de 2007. Não basta entrar na Libertadores pensando em disputar a primeira fase e ganhar uns premiozinhos bestas da Confederação Sul-Americana.

Flamengo e Vasco são os dois únicos times do Rio que já venceram a Libertadores. Têm torcidas expressivas em todo o Brasil - e, por que não, no mundo? Têm, portanto, a obrigação de cumprir um papel decente no torneio sul-americano, em nome de seus torcedores e em nome de suas ricas e gloriosas histórias.

Acontece que os elencos dos dois times são patéticos. Lutam, atualmente, no Brasileiro, pra sair daquele bolo entre o 11º e o 16º lugar - colocações, aliás, em que os dois times se habituaram a permanecer nas últimas edições do campeonato. É inacreditável que Flamengo e Vasco pretendam disputar uma Libertadores com aqueles elencos. Lembremos que os dois últimos campeões da Copa do Brasil, Santo André e Paulista, embora capazes de vencer um torneio caseiro, não conseguiram chegar às oitavas da competição sul-americana.

O clima no Vasco, neste momento, parece melhor. Não só pela vitória no minguado clássico de hoje, um jogo horroroso em que um time (o cruzmaltino) entrou somente para se defender e fez um gol num escanteio e o outro (o rubro-negro) dominou territorialmente do início ao fim, mas exibiu sua já tradicional inaptidão em colocar a bola pra dentro do gol. O Vasco consegue entrar na decisão num clima melhor porque também conquistou a vaga na final sobre o Fluminense, rival de maior qualidade, ao contrário do Flamengo, que não pegou nenhum time da Primeira Divisão na sua trajetória na Copa do Brasil - o que não lhe tira o mérito, óbvio, de chegar à final.

Além disso, o time da Gávea, que vinha de duas vitórias consecutivas no Brasileiro, fez uma intertemporada na qual conseguiu regredir tudo o que aprendeu. O time titular mudou completamente e amarga, nos dois primeiros jogos pós-Copa, duas derrotas, uma com goleada e outra para os reservas do arqui-rival. Uma beleza. Com um planejamento maravilhoso destes, que demite o treinador que pôs o time na decisão mais importante do ano e que contrata jogadores impedidos de participar desta finalíssima, criando a inédita situação de um clube ter dois times titulares no ano, é natural que o torcedor rubro-negro arranque os cabelos.

Por fim, outro motivo que deixa os vascaínos mais otimistas é a superação dos jogadores. Enquanto no Vasco os atletas, demonstram respeito à camisa que vestem e, em alguns casos, amor mesmo, suando, correndo e lutando, os do Flamengo - não todos, sejamos justos - acham que estão numa pelada de fim de semana, onde tanto faz perder ou ganhar. É uma postura assustadora às vésperas de dois jogos que ditarão o futuro do clube nos próximos meses.

Enfim, torço para que os dois times superem suas limitações e comportem-se como guerreiros em campo de batalha, exceto pela questão da violência. Se não podem nos agraciar com lances de pura técnica, que ao menos lutem até o fim, com garra, determinação e coragem, honrando o escudo que carregam no lado esquerdo de suas vestes.

(Flamengo 0 x 1 Vasco, Maracanã, Rio de Janeiro, décima-segunda rodada do Campeonato Brasileiro)

***

Um amigo meu costuma menosprezar todos os jogos que terminam com placares dilatados, como o 4 a 4 que Grêmio e Fluminense alcançaram hoje. "Pelada", determina ele, com desdém.

"Pelada", pra mim, é partida mal jogada. Aquela em que todos os jogadores partem pra cima da bola, sem um pingo de organização e com muita afobação. Ou em que caneladas são predominantes e chutes bisonhos fazem a torcida rir. Ou chorar.

Partida com muitos gols eu quero é todo dia. Às vezes, é fruto de ataques inspirados. Freqüentemente, é efeito de defesas displicentes. Não importa. Como diz o Rappa, eu quero ver gol. Ainda mais da maneira emocionante que foi, com três gols depois dos 40 do segundo tempo. Emocionante, surpreendente, de arrepiar.

(Grêmio 4 x 4 Fluminense, Olímpico, Porto Alegre, décima-segunda rodada do Campeonato Brasileiro)

***

Parabéns a Palmeiras e Santa Cruz, que, pelo jeito, trabalharam sério durante a Copa e já conseguiram duas vitórias depois do retorno às atividades do Brasileirão.

Fortaleza, Corinthians e a galera dos 14 pontos, formada por Botafogo, Ponte Preta, Flamengo e Atlético-PR, é hora de acordar. Os dois lanterninhas estão se aproximando, e a briga pra não cair começa a esquentar.

(Palmeiras 1 x 0 Corinthians, Morumbi, São Paulo, décima-segunda rodada do Campeonato Brasileiro)

(Fortaleza 1 x 4 Santa Cruz, Castelão, Fortaleza, décima-segunda rodada do Campeonato Brasileiro)

12 de jul. de 2006

Cafu quer refresco

escrito por Raphael Perret @ 16:58 4 comentário(s)

O lateral-direito do Milan reclama que não é nenhum marginal. Queixa-se de ver as pessoas mudando o campo de visão quando o avistam. Mas o que ele queria? Flores? Um troféu? Um comenda do presidente da República? Bem-feito. Sente na pele o que significou a perda do título para os brasileiros. Se soubesse que seria assim, teria se dedicado mais, acredito. E pensado menos nos recordes. E, sendo o capitão do time, teria a responsabilidade e obrigação de transmitir o sentimento aos companheiros.

Sobre o jogador querer disputar a Copa de 2010, falar o quê? Ele mesmo admite que a decisão não cabe mais a ele, mas ao técnico da seleção. Óbvio...

Campeonato Carioca 2007: percam!

escrito por Raphael Perret @ 12:33 13 comentário(s)

Tá lembrado do Campeonato Estadual do Rio deste ano? Aquele, com jogos maravilhosos e rentáveis entre Cabofriense, Portuguesa, Volta Redonda, Friburguense etc. Pois é. Em 2007 teremos mais jogos ainda, já que o Conselho Arbitral da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro aprovou o inchaço do campeonato. O número de clubes participantes subiu de 12 para 16. Em época de eleição, tudo vira moeda de troca. A Federação afirma que nem sabe quais os times que disputarão a Primeira Divisão no ano que vem. Já eu não sei qual o benefício que o aumento do número de clubes vai trazer. Deve ter sido a Copa do Mundo. Como o Mundial mostrou que o futuro do futebol é sombrio e a qualidade dos times cariocas é baixa mesmo, então sigamos a tendência: mais partidas horrorosas. Que belo prenúncio.

Vasco e Fluminense foram a favor da iniciativa. O Flamengo retirou-se da reunião. O Botafogo foi contra.

11 de jul. de 2006

Balanço e gangorra

escrito por Raphael Perret @ 00:27 3 comentário(s)


Zidane é expulso pelo árbitro Horacio Elizondo na final da Copa de 2006: cena emblemática da mediocridade do Mundial, na qual os craques se apequenaram


Nenhuma outra Copa registrou fatos tão esquecíveis como esta de 2006. Vamos lá, me diga um jogo memorável, um grande craque da Copa, ou qualquer outra coisa boa deste Mundial que será lembrada daqui a 25 ou 50 anos.

Jogos. A classificação da Itália sobre a Alemanha? Talvez. Entra pra história mais pela carga emocional do que pelo valor técnico (apesar dos dois gols bonitos da seleção campeã). Fora esta, as outras partidas foram muito maçantes. Inclusive a final. Quando a Itália empatou com a França, acreditei, tolamente, que o jogo esquentaria. Mas não. A Azzurra se encolheu de vez, trazendo o adversário para o seu campo, sem investir nos contra-ataques. E a França, mesmo com o domínio do jogo, tinha enormes dificuldades em tramar algo ofensivo, vertical. Uma inaptidão só.

Em todas as partidas, os ataques eram fracos e insípidos, errando chutes fáceis e trombando com zagas consistentes, claros focos de preferência dos técnicos, cada vez mais medrosos e defensivistas. A marcação acirrada foi uma das tônicas da Copa. Porém, mais evidente, foi o temor de atacar, a abulia e a falta de ousadia os atributos que marcaram o futebolzinho medíocre desta Copa.

Craques. Todas as promessas de melhor jogador da Copa murcharam. Quando um grande jogador saía da competição ou demonstrava que não ia brilhar mesmo, outro surgia, mas logo seguia o mesmo caminho. Ronaldinho Gaúcho, apático e indolente, irritou pelo seu semblante dúbio, incapaz de sinalizar alegria ou tristeza. Beckham fugiu da raia e pipocou no decisivo jogo contra Portugal. Ballack foi um simples coadjuvante da seleção alemã, que destacou, comedidamente, Podolski, Lehmann e Klose. Figo cansou em quase todos os jogos do time português. O próprio Totti, principal atleta da seleção campeã, sumiu. E, quando Zidane parecia ter o rumo desimpedido para ser o dono do Mundial, cometeu aquela tolice na decisão. Foi a Copa que apequenou os craques, tão encantadores em seus clubes, tão decepcionantes na maior vitrine do futebol mundial.

O próprio artilheiro da Copa, Miroslav Klose, não encantou, uma vez que foi o goleador que menos marcou numa Copa desde 1962. E as revelações? Podolski não fez nenhuma jogada inesquecível. Cristiano Ronaldo fez firulas, mas foi, no fim das contas, pouco objetivo. Messi e Robinho, ao menos, podem dizer que pouco jogaram. A Alemanha foi, definitivamente, a sede de um Mundial de poucos produtos, poucos resultados, pouca memória.

***

Até o presidente da Fifa, Joseph Blatter, deve ter achado essa Copa muito chata, a ponto de sugerir mudanças nas regras, como o aumento das medidas do gol. Engraçado que as metas sempre tiveram as mesmas dimensões nas décadas anteriores e, mesmo assim, havia placares mais recheados.

Aumentar as balizas pode até ajudar, mas no fundo é uma medida inócua. Os chutes estão saindo muito ruins, longe mesmo do gol. Não são os goleiros que estão trabalhando mais. Os atacantes é que estão descalibrados. Os clubes têm que investir é em treinamento, mesmo. Ainda assim, qualquer providência da Fifa visando ao aumento do número de gols será bem-vinda. Que esta Copa sirva de alerta.

***

Segue, aqui, um balanço geral das seleções que participaram desta Chatice-2006. E uma gangorra, com quem subiu e quem desceu.

ALEMANHA - fez o que pôde com o time que tem. Em casa, os jogadores apresentaram raça e vontade de vencer, encontrando eco na animadíssima torcida. Ao contrário do que se imaginava, não recebeu ajuda da arbitragem.

ARGENTINA - não chegou a decepcionar exatamente, já que foi eliminada para uma seleção tradicional e que era anfitriã. Mas tinha plenas condições de chegar mais longe. Empolgou nos dois primeiros jogos, caiu em seguida e seu técnico, Jose Pekerman, a eliminou contra a Alemanha, ao fazer substituições terríveis numa partida que vencia por 1 a 0.

AUSTRÁLIA - uma das seleções que voltam para casa com saldo positivo. Obteve uma classificação inédita para a segunda fase e engrossou o jogo das oitavas com a Itália, que só passou graças a um pênalti polêmico no fim do segundo tempo. Em contrapartida, deixou também a má impressão de time violento, revelada nos jogos preliminares à Copa.

BRASIL - não preciso ser brasileiro para dizer que este foi o time que mais decepcionou os espectadores da Copa do Mundo. Se França e Argentina causaram a mesma sensação em 2002, ficou com o Brasil a tarefa de desmistificar a superioridade de sua seleção. Numa Copa de poucas (ou nenhuma) zebras, o Brasil conseguiu reunir um elenco fantástico e não convencer em nenhuma partida, com exceção do confronto com o Japão. O time participou da maioria dos jogos sem vontade, o técnico pouco fez para mudar o andamento das partidas, jogadores com muita idade ou com muito peso eram intocáveis, a soberba era nítida e nem na eliminação os atletas pareceram incomodados ou assumiram sua culpa. Uma sucessão de erros que deixou a torcida brasileira frustrada (com a saída prematura) e irritada (com a apatia do time).

CORÉIA DO SUL - pronto, bastou sair de casa para a Coréia do Sul retornar ao tradicional papel de coadjuvante em Copas. Uma vitoriazinha enganadora sobre Togo, um empate suado contra a França e uma amarelada diante da Suíça. Só mesmo quando sediar outra Copa a Coréia repete ou supera o quarto lugar de 2002.

COSTA DO MARFIM - mostrou alguma qualidade. Partiu pra cima de Argentina e Holanda e valorizou a vitória dos adversários. Se tivesse caído num grupo menos difícil, poderia até se classificar. Afinal, num jogo que não valia nada, lutou contra Sérvia e Montenegro, venceu um jogo por 3 a 2, após estar perdendo por 2 a 0, e conquistou sua primeira vitória em Copas. Pena que já havia perdido duas vezes na competição.

EQUADOR - consagrou-se definitivamente como a terceira força do futebol sul-americano. Só precisa libertar-se do "complexo de vira-lata", único motivo que explica a postura covarde diante de Alemanha e Inglaterra. O medo ficou evidente no confronto das oitavas diante do time de Beckham, quando jogou muito recuado. Tivesse um pingo a mais de coragem, o Equador chegaria às quartas-de-final.

ESPANHA - a Portuguesa ou o América das Copas do Mundo: nada, nada, nada... e mal morre na praia, porque nunca foi muito longe mesmo. Seu time renovado deu alguma esperança aos torcedores espanhóis ao cumprir uma primeira fase com 100% de aproveitamento, com direito a goleada e vitória de virada. Entretanto, bastou enfrentar uma seleção mais arrumadinha para sucumbir com um 3 a 1. No máximo, a Espanha é a líder do segundo escalão do futebol europeu.

FRANÇA - seu joguinho de muita posse de bola com posicionamento recuado, acreditando nos lançamentos longos para Henry ou lances de bola parada funcionaram na fase mata-mata. Com uma eficiente e burocrática estratégia, eliminou Espanha, Brasil e Portugal, além de sair na frente na decisão com a Itália. Um futebol ofensivamente pobre, que cresceu com os lampejos de Zidane. O craque, aliás, pouco fez ao longo da Copa, mas os 10% de seu repertório (quase 100% no jogo contra o Brasil) foram suficientes para destacá-lo dos demais no Mundial. Seu epílogo, porém, foi desastroso, com a agressão ridícula em Materazzi e parcialmente responsável pelo vice-campeonato da França, que dominava o jogo contra a Itália. Melhor que, na história, será destacado como o Bola de Ouro da Copa, com justiça.

GANA - é um bom time, que tirou a vaga da República Tcheca para as oitavas. Entretanto, tem dois defeitos gravíssimos. Primeiro: bate muito. Foi o time de maior média de faltas por jogo da Copa. Segundo: não sabe chutar. Organiza boas jogadas, os atacantes surgem na cara do gol várias vezes e a bola pára nas mãos do goleiro ou nas nuvens. Uma melhor pontaria daria a Gana uma chance de não perder para a Itália e, quem saberia, um caminho diferente no Mundial, evitando o Brasil logo na segunda fase.

HOLANDA - o time carrega o nome de uma seleção tradicional, mas não correspondeu às expectativas. Deu pro gasto nas vitórias sobre Sérvia e Montenegro e Costa do Marfim. Foi eliminada nas oitavas, na já famosa "batalha de Nuremberg", patético confronto com Portugal que resultou em quatro expulsões e no qual até abandonou os princípios do fair play.

INGLATERRA - outra desilusão. O time, acreditem, era bom, com um meio-campo talentoso composto por Beckham, Lampard, Gerrard e Joe Cole. O ataque prometia, com Michael Owen e Wayne Rooney. A defesa era forte, como reza a tradição britânica. Acontece que Owen foi peça nula até deixar a Copa machucado e Rooney só foi visto ao ser expulso nas quartas. Quanto ao meio-campo inglês, apesar do bom toque de bola, insistiu a Copa inteira nos famosos chuveirinhos e nos chutes de longa distância. Os petardos de fora da área até assustavam, mas os cruzamentos eram inofensivos diante de times retrancados. Passivo, o técnico Sven-Goran Eriksson foi incapaz de recomendar aos jogadores tentativas de tabelas pelo meio. Deu no que deu.

ITÁLIA - quietinha, a Itália superou seus adversários sem exibir um futebol vistoso, e sim uma estratégia eficaz, simples e convencional. Pra variar, a Azzurra jogou atrás, garantindo-se na excelente defesa, e explorando os contra-ataques. Desta vez, o ataque italiano tinha bons jogadores e partia em bloco, aumentando o grau de perigo de suas investidas. Assim, superou Gana e República Tcheca. Contra a Austrália, foi incapaz de partir pra cima nos contragolpes, mas teve a sorte de ganhar um pênalti no finalzinho. Depois do passeio contra a Ucrânia, deixou a Alemanha se cansar para aniquilá-la na prorrogação, com um time surpreendentemente ofensivo, quando as circunstâncias faziam imaginar uma postura mais hesitante. Na final, correu atrás do gol de empate, mas não teve pernas para tentar virar o jogo, deixando o tempo passar e torcendo para o momento dos pênaltis, que nunca fizeram bem à Itália em Copas. A história, no entanto, mudou e a Azzurra é tetracampeã mundial.

MÉXICO - um time que regrediu ao longo do tempo. Demonstrou alguma evolução na última década, mas não exibiu um bom futebol nesta Copa. Por pouco não perde a vaga de seu grupo para Angola, com quem empatou em 0 a 0, numa das (forçadas) zebras do Mundial. E, tal qual o Equador, preferiu jogar na defesa contra a Argentina e tentar uma classificação para as quartas nos pênaltis. Sofreu um belo castigo, que foi o golaço de Maxi Rodriguez.

PARAGUAI - se o panorama não mudar, corre o risco de não se classificar para a África do Sul. Foi um time tacanho, com um ataque extremamente nulo contra a Inglaterra e a Suécia, entregando jogos que não eram difíceis. Embora tenha tido azar contra os britânicos, que venceram com gol contra de Gamarra, o Paraguai não merecia vencer o jogo. Enquanto nas duas Copas anteriores o time passou da primeira fase e foi eliminado por seleções finalistas, em 2006 o Paraguai saiu do Mundial porque quis.

PORTUGAL - a maior surpresa da Copa, o que não significa que tenha sido sensacional ou envolvente. Não apresentou um futebol diferente dos demais, e só foi "surpresa" porque é um time sem tradição em Mundiais. Mas o técnico Luiz Felipe Scolari injetou aplicação nos jogadores, que corresponderam e classificaram o time sem sustos na primeira fase. O mata-mata revelaria as dificuldades de Portugal: a instabilidade emocional, que transformou o jogo contra a Holanda num mico histórico; a inexperiência, que impediu uma vitória tranqüila sobre uma Inglaterra com um a menos; a limitação técnica, incapaz de superar uma França sem muitos recursos. Restou a Portugal a decisão do 3º lugar, perdida para uma Alemanha raçuda. Sem problemas: o time português de 2006 entra para a história do futebol de seu país com plena honradez.

REPÚBLICA TCHECA - mais uma decepção. Passeou contra os Estados Unidos e exibiu um Nedved em grande fase. Porém, o talento do jogador foi insuficiente para fazer o time avançar às oitavas, caindo para Gana e Itália de forma até fácil.

SUÉCIA - sempre teve times técnicos, mas seus principais jogadores de hoje, Larsson e Ibrahimovic, estiveram na Alemanha a passeio. Assim, a Suécia classificou-se com alguma dificuldade e não agüentou a pressão do time da casa logo nas oitavas.

SUÍÇA - pela primeira vez, um time termina uma Copa sem sofrer um mísero gol. Não deixa de ser um mérito. Pena que a insípida seleção Suíça também não saiba marcar gols, nem de pênaltis. Foi eliminada pela Ucrânia nas oitavas por 3 a 0 nas cobranças finais, depois de um chatérrimo empate sem gols durante 120 minutos. Cá entre nós, alguém vai se lembrar do exuberante futebol suíço, dono de um ferrolho intransponível? Blé...

UCRÂNIA - legal, primeira participação em Copas, eliminada pela campeã Itália nas quartas-de-final... Talvez o povo de Kiev tenha comemorado. Mas a exibição do futebol ucraniano foi uma lástima. Perdeu de 4 a 0 para a Espanha, enfrentou babas como Arábia e Tunísia, produziu aquela peça horrorosa em conjunto com a Suíça e foi eliminada categoricamente pela Azzurra por 3 a 0. Ao contrário de Coréia do Norte em 1966 e Senegal em 2002, que fizeram boas campanhas em suas primeiras Copas e justificaram suas colocações, a Ucrânia foi longe em 2006 com a impressão de que foi... longe demais.

ANGOLA, ARÁBIA SAUDITA, COSTA RICA, CROÁCIA, EUA, IRÃ, JAPÃO, POLÔNIA, SÉRVIA E MONTENEGRO, TOGO, TRINIDADE E TOBAGO e
TUNÍSIA
- obrigado pela participação. Voltem sempre.

7 de jul. de 2006

Epitáfio

escrito por Raphael Perret @ 17:22 4 comentário(s)

Como é que ninguém questionou ou, no mínimo, caçoou da música escolhida por Parreira, antes da Copa, para ser a trilha sonora da seleção, Epitáfio? Com esse nome, o desfecho não poderia ser diferente. Que sensibilidade!

6 de jul. de 2006

As Copas que vivi (IV) - 1998

escrito por Raphael Perret @ 23:26 1 comentário(s)


Ronaldo e Ronald de Boer se enfrentam na semifinal histórica entre Brasil e Holanda: jovens inexperientes sem comunicação com veteranos em má fase resultaram em um time obtuso


Durante a maior parte dos eventos relacionados à Copa de 1998, a faculdade estava presente de alguma forma. Soube do corte de Romário e da convocação de Emerson na entrada do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, da UFRJ, na Ilha do Fundão. Cinco dos sete jogos do Brasil acompanhei com meus colegas universitários (os outros dois vi com minha então nova namorada). As reuniões para ver a seleção não eram casuais. Havíamos decidido que veríamos cada jogo na casa de alguém. O mais comum de um jovem matriculado numa faculdade é que ele faça parte de um grupo. E o meu grupo se manteve unido no evento mais agregador da cultura brasileira. O que rendeu bons momentos.

O anfitrião sempre oferecia o almoço da galera, uma vez que os jogos eram à tarde. Assistimos, do início ao fim, a campanha aos trancos e barrancos da seleção brasileira. Às vezes dava uma engrenada, como nos jogos contra Marrocos e Chile, às vezes empacava, como na derrota para a Noruega e... bem, vocês sabem quando. Mesmo com placares bem animados, o time não conseguia criar empatia com os torcedores. Ronaldo, ainda magro (compare o jogador de 98 com o peso-pesado que apareceu na Alemanha: é covardia), vinha de lesão e tinha suas atuações cercadas de expectativa. O meio-campo era torto, recheado de canhotos como Leonardo, Rivaldo e o reserva Denílson. A defesa inspirava cuidados aos cardíacos, com o tresloucado Júnior Baiano e o inseguro Aldair. Roberto Carlos não era criticado, ainda, pela idade, mas pela soberba com que dizia asneiras e com a qual se achava o melhor lateral-esquerdo do planeta. Pra piorar, o clima era de incredulidade depois do corte de Romário, por muitos atribuído a uma suposta crise de ciúmes do coordenador-técnico Zico. De positivo, só se salvaram Taffarel, Cafu (sim, acredite, ele saiu do Brasil quase a pontapés e se redimiu com boas atuações) e César Sampaio, que chegou a ser o artilheiro do time até as semifinais. Era uma seleção que misturava veteranos em má fase com jovens inexperientes, sem comunicação entre si, um problema que se resolveria com o tempo, e que foi visivelmente sanado quatro anos depois.

No banco, Zagallo comandava o time. Seu erro foi ser auto-confiante demais. O Brasil treinou pouco, sem se dedicar aos amistosos enquanto as outras equipes disputavam as eliminatórias (naquela época, a seleção campeã se classificava automaticamente para a Copa seguinte). Além disso, muitos confiavam na sua suposta "predestinação" (ninguém lembrava de que Zagallo também perdeu muitas vezes, como em 1974) e suas atitudes algo folclóricas eram suficientes para criar uma simpatia com uma boa parcela da imprensa e dos torcedores. Assim, Zagallo foi para a França tentar o penta praticamente acreditando na mística, em detrimento dos raros treinamentos. A figura ascética ganhou força nas semifinais, na classificação nos pênaltis após um jogo inesquecível contra a Holanda, no qual o Brasil se arrastou em campo, demonstrando um preparo físico extremamente precário. Antes das cobranças fatais, o técnico foi flagrado pelas câmeras de TV com os punhos cerrados, motivando os jogadores, um a um. A classificação para a final veio e Zagallo, ao lado de Taffarel, foi considerado herói.

Lembro que foi uma Copa animada, no geral. Muitos gols, jogos memoráveis, como o já citado Brasil 1 x 1 Holanda, França 1 x 0 Paraguai, famosa partida em que os sul-americanos seguraram os anfitriões com muita garra e foram eliminados no gol de ouro, a poucos minutos do fim da prorrogação, e Argentina 2 x 2 Inglaterra, jogaço decidido nos pênaltis - favoráveis à Argentina - com lindos gols marcados, expulsão de Beckham forçada por Simeone e muita raça dos dois lados, fortalecendo a rivalidade entre os dois países, criada desde a Guerra das Malvinas e acirrada com os gols de Maradona de 1986, o de Deus e o de placa.

Apesar do desfecho frustrante para os brasileiros, até guardo boas lembranças do Mundial, porque associo-as a uma época muito agradável da minha juventude, adornada pela convivência com amigos tão queridos das duas faculdades em que estudei. A derrota para a França, no fim das contas, convulsões e teorias conspiratórias à parte, significou o mesmo que uma nota ruim tirada numa prova importante: ela deixa você decepcionado e triste, mas a vida universitária, com os amigos, histórias e piadas, injeta bom humor e alegria em tudo.

3 de jul. de 2006

Novidades de museu

escrito por Raphael Perret @ 22:58 1 comentário(s)

Parreira admite que seleção estava "rachada" na Alemanha. Ufa. Pensei que morreríamos sem ver alguém assumir essa informação. Com aquele sentimento de companheirismo todo demonstrado em campo, seria muito abuso da paciência alheia continuar dizendo que o grupo (?) estava unido.

***

Roberto Carlos anuncia sua aposentadoria da seleção. Podia ser menos traumática, não? Se tivesse sido há quatro anos, em Yokohama, depois dos 2 a 0 sobre a Alemanha, seria ideal. E ninguém sentiria muita falta.

Resolver não jogar pela seleção por causa da idade é um direito do atleta. Patético é o jogador afirmar que pretende continuar defendendo o Brasil.

Lindo. Mas primeiro ele precisa ser convocado pelo técnico.

Ah, a empáfia...

***

Edílson diz que a Copa que interessa é a do Brasil. E a opinião do jogador é compartilhada por 26 mil cariocas. Este foi o total de pessoas que, em plena ressaca pós-eliminação na Copa, já compraram ingresso pro primeiro jogo da decisão da Copa do Brasil, dia 19, no Maracanã entre Flamengo e Vasco. A previsão é que as entradas se esgotem nesta terça.

O show não pode parar.

2 de jul. de 2006

Os quatro últimos serão os primeiros

escrito por Raphael Perret @ 20:58 0 comentário(s)


Morde e assopra: Zidane, que pôs o Brasil na roda e no chão, consola Zé Roberto


Alemanha 1 x 1 Argentina (4 x 2 nos pênaltis)

Quanto mais a Copa se aproxima do final, mais os times têm medo. Se o adversário é uma força tradicional, então, espere um futebolzinho mixuruca, de toque pro lado, sem ousadia, com cautela demasiada, chances raras de gol e um tédio quase profundo.

Argentina e Alemanha decepcionaram quem esperava, pelo menos, um jogo vibrante, mesmo que não resultasse em um placar recheado. O primeiro tempo foi enfadonho. No segundo, Ayala marcou seu gol, e deu pelo menos a impressão de que haveria mais movimentação ao longo da partida.

A Alemanha foi pra cima, mas sem velocidade nem criatividade, arriscando os chutes de longe e os cruzamentos. O técnico argentino, José Pekerman, deu uma aula de como fazer péssimas substituições: tirou Riquelme, armador, e Crespo, centroavante e colocou Julio Cruz, um poste, e Cambiasso, um volante, deixando Saviola e Messi esquentando o banco. O castigo veio no gol de Klose, provável artilheiro do Mundial. A prorrogação apenas passou o tempo até os pênaltis, quando Ayala e Cambiasso mostraram que a disputa não é nada loteria: é competência mesmo. Ou falta dela, no caso dos dois jogadores.

A Argentina amarelou, porque tinha condições de aumentar o placar, não fosse a covardia de seu treinador. A Alemanha mostrou suas limitações ao enfrentar um time de melhor qualidade. Suas chances de ganhar aumentam por causa da inflamada torcida.

Itália 3 x 0 Ucrânia

Não vi o jogo direito. Me pareceu um passeio italiano pelos jogadores ucranianos. Uma defesa praticamente imbatível e um ataque competente. Convenhamos: tomar três gols da Itália é um atestado de inépcia futebolística. Como quem não quer nada, uma Itália sem grandes estrelas já está entre os quatro melhores do Mundial. E deve fazer uma semifinal bem interessante com a Alemanha. Afinal, a Azzurra sabe jogar recuada e investir em contra-ataques. É a principal aula de sua escola.

Inglaterra 0 x 0 Portugal (1 x 3 nos pênaltis)

Todos louvam Felipão, com sua razão. Ele injeta garra, ânimo, raça nos jogadores. Mas, definitivamente, os atletas não corresponderam na partida de quartas-de-final que classificou os lusitanos. O jogo estava amarrado até mais ou menos a metade do segundo tempo. Tipo Alemanha x Argentina. Então, o invocadinho Rooney dá um pisão numa região bem sensível de Ricardo Carvalho. É expulso e o técnico Sven Goran Eriksson tira o bom apoiador Joe Cole e coloca o grandalhão desengonçado Peter Crouch pra jogar sozinho no ataque. Era a chave para Portugal partir pra cima da Inglaterra e pressionar até o fim.

Entretanto, os portugueses não tiveram pernas. Daquele momento da expulsão até o final da prorrogação, Portugal chegava lentamente à área britânica, os atacantes pouco se movimentavam e os chutes saíam despretensiosos, distantes. Enquanto isso, quando era possível, a Inglaterra partia em corrida em direção ao gol de Ricardo, mas a solidão de Crouch não era suficiente pra fazer a bola chegar à meta, exceto em lances de bola parada que assustaram. Se o time inglês se classificasse, seria um ato de heroísmo e superação.

Vieram os pênaltis, nervos e músculos em frangalhos, várias cobranças perdidas, prevaleceu a estrela de Ricardo, que pegou três bolas.

Brasil 0 x 1 França

Zidane encarnou, em Frankfurt, todos os atributos que a maioria dos jogadores da seleção brasileira aparentava ter antes da Copa: idade avançada, talento único, velocidade, visão de jogo, precisão nos passes. No Mundial, o Brasil só apresentou mesmo a alta quilometragem, e só porque dela os atletas são indissociáveis. Todos brincavam com a aposentadoria de Zizou, mas ele mostrou que tem vários jogadores no Brasil que podiam aproveitar a despedida da Alemanha e se dirigir diretamente ao INSS mais próximo, enquanto ele exibe toda a sua categoria, aliás, questionada por muitos.

O francês guardou todo o seu repertório para, sem meias palavras, humilhar o Brasil. Deu lençol, deixou jogador no chão, puxou contra-ataques, fez lançamentos certeiros e, claro, deixou a bola aos pés de Thierry Henry, pela primeira vez em Copas, para que o jogador do Arsenal marcasse o gol que eliminou o Brasil. Zidane fez tudo com uma simplicidade impressionante, como se tivesse combinado com os jogadores adversários. Como conhecemos todo o seu talento, sabemos que as jogadas apresentadas foram fruto de seu talento, posto à máxima prova em toda a partida.

Os comentaristas de TV discutiam se Zidane merecia marcação especial ou não. O debate é inócuo. Não foi sua atuação nota 10 que desclassificou o Brasil. O Brasil é que se eliminou. A participação dos jogadores foi pífia, tirando os zagueiros, que cortaram um dobrado com a peneira do meio-campo brasileiro, e o goleiro Dida, sempre bem presente. A excelente marcação francesa não justifica a derrota. Ou o Brasil não tem jogadores geniais como Ronaldinho Gaúcho (uma decepção total, tímido, inoperante, presa fácil), Kaká (se estava meia-bomba, por que entrou como titular?) e Ronaldo (ao menos deixou sua marca nos jogos anteriores e chutou a gol), conhecidos por sua facilidade de penetração?
E o que dizer dos laterais Cafu e Roberto Carlos, que acertam um cruzamento de vez em quando, um chute a cada dez anos e, como se não bastasse, marcam mal (ou nem marcam, como fez o lateral-esquerdo no lance do gol)? E Parreira, que mexeu no time depois do gol francês, maduro desde o primeiro tempo? Por que mexeu no esquema tático tão drasticamente sem nunca tê-lo treinado antes, em vez de fazer as substituições que fizera contra o Japão, que ao menos já haviam sido testadas?

Listar os erros do Brasil no jogo e na Copa levaria muito tempo, luxo do qual não disponho agora. A última das falhas eu cito ao repetir a frase de Parreira, após a partida: "Admito que não estava preparado para sair nas quartas-de-final".

É isso. No mínimo, faltou humildade. Portanto, havia, sim, salto alto na seleção.

***

Alemanha, Itália, Portugal e França. Quatro seleções lutam por um título. Uma por bi, duas por tetra, uma pelo inédito. Quem tem mais chances?

A Alemanha é a resposta mais óbvia, pela torcida e pela dose de força conquistada na suada e dramática classificação por pênaltis.

A Itália, pra variar, tem a melhor defesa e seu único gol sofrido foi bisonhamente contra. Não é pouco. Além disso, o ataque tem sido eficiente nos contragolpes.

Portugal tem muita garra. O time supera suas deficiências com muita aplicação, embora isso não tenha ocorrido contra a Inglaterra, num jogo em que as condições lhe favoreciam.

A França ganhou moral e evoluiu muito ao longo do torneio. O time está unido, equilibradíssimo e Zidane voltou a brilhar. Se jogar assim na semifinal e numa eventual final e dar o título à sua seleção, entrará para a história ao ser o dono desta Copa.