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Tentando dar alguma razão à emoção do futebol

14 de mai. de 2006

Titulares x reservas

escrito por Raphael Perret @ 23:20

Hoje o Calazans escreveu o seguinte:

Não faz muito tempo, eram corriqueiras nas páginas esportivas reportagens dando conta de que certo time, melhor dizendo, certos times, ou mesmo muitos times, estavam jogando três vezes por semana tal a quantidade de competições e de compromissos causados por um calendário desumano. Era comum ler a notícia de que o time tal estava jogando quase que dia sim, dia não.

Pois entre tantas coisas que pioraram e ainda pioram no futebol brasileiro, ao menos uma, surpreendentemente, melhorou: o calendário se humanizou. Pode não ser o ideal, mas é melhor. Mesmo clubes envolvidos em mais de uma competição — por exemplo, Campeonato Brasileiro e Taça Libertadores ou Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil — não jogam mais do duas vezes por semana. Nenhum de nossos times está jogando mais do que duas vezes por semana. Pois não é que justamente agora, no novo milênio, em 2006, técnicos descobriram que seus jogadores NÃO podem jogar duas vezes por semana? E não estão jogando mesmo. Vasco e Flamengo por causa da Copa do Brasil, São Paulo, por causa da Taça Libertadores, têm desdenhado do Campeonato Brasileiro, nossa mais importante competição, escalando sistematicamente times reservas.

Temos então a pergunta renitente pairando no ar: será que jogadores profissionais de futebol não podem jogar futebol duas vezes por semana? Quem terá descoberto, em pleno século 21, essa impossibilidade? Os técnicos? Os médicos? Os preparadores físicos? Os cientistas? Os próprios jogadores?

(...)

Então acontece que os torcedores, sim, os fiéis torcedores pagam ingresso e vão ao estádio para ver atuar os seus times reservas — porque jogadores profissionais de futebol simplesmente não podem jogar futebol duas vezes por semana. Que bonito!

É lógico que há casos específicos em que se justifica poupar titulares. Uma viagem mais longa de ida e volta entre um jogo e outro. O sacrifício de um confronto na altitude. A parte final de uma temporada... Tudo bem. Mas um jogo em Porto Alegre e outro aqui mesmo no Maracanã, ou um jogo aqui mesmo no Maracanã e outro em Goiânia — este caso, o do Vasco por exemplo, chega a ser risível. E o Flamengo que nem sabe ao certo quais são seus jogadores titulares e quais são os reservas? Talvez por isso escale um time chamado misto, que não é reserva nem titular. Sabe-se lá o que é.

E este é nada menos do que o Campeonato Brasileiro de Futebol.


Eu concordo com a maioria dos argumentos do colunista. Teve uma vez que o Grêmio, dirigido pelo Felipão, jogou três vezes no mesmo dia (!!!!!!), por causa do calendário idiota que misturava três, quatro torneios simultâneos. Aquilo, sim, era uma maluquice.

Com dois jogos por semana, o que justifica poupar jogadores titulares em um campeonato em detrimento do outro?

O atleta pode se machucar? Este argumento revela que as partidas estão cada vez mais vigorosas e, não raro, violentas. Mas o risco existe em qualquer jogo.

Um torneio é mais importante que o outro? Mas o campeonato disputado pelo time misto é o Brasileiro, aquele de pontos corridos, em que uma derrota pode fazer a diferença no título, ou numa vaga para uma competição internacional, ou a manutenção na Série A...

As viagens? Creio que jogar na altitude num dia e no nível do mar três ou quatro dias depois pode influenciar o rendimento da equipe. Mas somente neste caso.

O jogador não está 100% em virtude de uma lesão? Compreensível. Porém, poupar um atleta por cansaço, e no quinto mês do ano, é injustificável. A culpa é da equipe de preparação física.

A única vantagem do "descanso" é a vitrine que os reservas ganham para aparecer e exibir suas virtudes para tentar um lugar na equipe titular. O problema é que os times brasileiros são tão medianos que seus elencos reservas acabam deixando a desejar, o que desmotiva o torcedor.

Prefiro que os técnicos optem sempre pelo time titular. Valoriza as vitórias, atrai a torcida e torna os jogos mais interessantes. Poupar os jogadores parece desculpa para esconder as falhas da preparação física dos atletas.

***

Dois pontos perdidos no Maracanã para o Fortaleza podem fazer muita falta. Não sejamos injustos. O Flamengo lutou, do início ao fim, pela vitória. Dominou o jogo e só foi incomodado de verdade no segundo tempo, quando Maurílio entrou na equipe nordestina e criou boas oportunidades junto com Mazinho Lima. O rubro-negro chutou pouco e, quando chutou, chutou mal.

Walter Minhoca, a maior esperança de criatividade nas jogadas do Flamengo, decepcionou. Lançou Ramírez em um bom toque de calcanhar, passou a errar alguns passes longos e, em vez de continuar tentando, acabou se intimidando e sumiu. Pena. O paraguaio, aliás, está em péssima fase, embora tenha sofrido um pênalti claro não marcado pelo árbitro, que estava a uns cinco metros do ocorrido.

Não me pareceu que o Flamengo jogou "com a cabeça no Ipatinga". Faltou mais calibre na pontaria e, claro, mais acurácia nos passes. Lamentável que o empate tenha acontecido no Maracanã.

Vale lembrar, porém, que Waldemar Lemos escalou o ataque reserva.

(Flamengo 0 x 0 Fortaleza, Maracanã, Rio de Janeiro, 14/05/2006, quinta rodada do Campeonato Brasileiro)

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Como quem não quer nada, o Cruzeiro alcança o terceiro lugar. Perdeu na estréia, mas depois venceu três seguidas e só não ganhou do Palmeiras porque sofreu um gol em um lance de confusão na pequena área. Senão, a Raposa teria se distanciado do Fluminense, em quarto.

O Flu caiu da segunda pra quarta colocação depois de enfrentar, com o time reserva, o Figueirense e perder.

(Palmeiras 1 x 1 Cruzeiro, Parque Antártica, São Paulo, 14/05/2006, quinta rodada do Campeonato Brasileiro)

(Figueirense 1 x 0 Fluminense, Orlando Scarpelli, Florianópolis, 14/05/2006, quinta rodada do Campeonato Brasileiro)

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O Vasco também perdeu sua invencibilidade na despedida de Geninho do Goiás. No Serra Dourada, o time cruzmaltino era o reserva.

(Goiás 2 x 0 Vasco, Serra Dourada, Goiânia, 14/05/2006, quinta rodada do Campeonato Brasileiro)

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Vi o segundo tempo da vitória do Inter sobre o São Paulo. Jogo meio truncado, mas com boas jogadas. Até porque os dois times são bons. E só não entraram com as equipes reservas porque a Libertadores só volta depois da Copa.

Se tanto o bandeirinha quanto o juiz não tivessem visto que o toque para Rafael Sóbis foi do companheiro e não do adversário, a falha não seria tão gritante. No entanto, o auxiliar indicou o impedimento. Só que o juiz resolveu assumir o lance. E, conseqüentemente, o erro.

Melhor para o Inter, vice-líder, empatado em número de pontos com o Santos. Atrapalhado contra o Corinthians em 2005, beneficiado contra Flamengo e São Paulo em 2006. Acontece.

(Internacional 3 x 1 São Paulo, Beira-Rio, Porto Alegre, 14/05/2006, quinta rodada do Campeonato Brasileiro)

***

Algumas curiosidades sobre o campeonato e comparações com o panorama da quinta rodada em 2005 (considerando o resultado dos jogos anulados com o escândalo do Edílson Pereira de Carvalho):

- Já tivemos 50 jogos. Em 28 os mandantes venceram e em 12 perderam. Houve 10 empates. O equilíbrio dos times não se traduz na igualdade dos resultados, mas na irregularidade. Quem joga fora de casa acaba atuando muito na defensiva, favorecendo a vitória do mandante. Bem ou mal, o fator campo ainda prevalece na maioria dos casos. Apertado. Mas já foi mais. No ano passado, em 55 jogos nas cinco primeiras rodadas, apenas em 51% os mandantes haviam vencido.

- A média de gols é de 2,54 por jogo. Pouco. Em 2005, na quinta rodada, a taxa era de 2,8 gols por partida.

- Santos e Inter são os dois invictos do Brasileirão 2006. A essa altura do campeonato, no ano passado, só o Juventude não havia perdido ainda.

- Aliás, o Santos é tão líder hoje quanto o era na quinta rodada de 2005. Ou melhor, é mais líder ainda, já que divide o primeiro lugar "apenas" com o Inter (ano passado, repartia a liderança com Flu e Botafogo) e tem 13 pontos (contra 12 em 2005).

- Os rebaixados, naquela época, seriam, do último (22º) para o 19º, Atlético-PR, Figueirense, Paysandu e Brasiliense. Curiosamente, destes só o lanterna não caiu para a Série B, mas o seu homônimo mineiro, sim. O Atlético Mineiro estava em 17º. Hoje, na mesma ordem, cairiam Palmeiras, Santa Cruz, Grêmio e Paraná. Começar mal não é novidade para Paraná e Palmeiras, que ano passado, na quinta rodada, estavam, respectivamente, em 16º e 18º.

***

Na próxima rodada, teremos grandes clássicos: Vasco x Corinthians, Cruzeiro x Flamengo e Fluminense x Santos. Os três resultados serão diretamente influenciados pelo que ocorrer nas semifinais da Copa do Brasil. Os cariocas podem entrar em campo empolgados ou frustrados. Dificilmente porão os times reservas, já que o mata-mata será paralisado. E o terceiro destes jogos chama a atenção porque envolve o líder e o quarto lugar, na casa deste, equilibrando a disputa.

O Palmeiras terá uma boa chance para conquistar a primeira vitória no Brasileiro, já que recebe o decepcionante Santa Cruz no Palestra Itália. E o Inter pode se aproveitar do jogo duro do Santos para passar-lhe a frente, caso vença o Figueirense em Porto Alegre. Rodada valiosa. Como todas as outras, sempre, no campeonato de pontos corridos.

***

Todo mundo já deve ter dado palpite sobre a convocação da Seleção amanhã. Não vou dar o meu, não. Prefiro comentar.

1 Comentários:

Em 18:06, Blogger Daniel F. Silva falou...

A grande parte dos times brasileiros não está acostumada com o Nacional de pontos corridos, em que o primeiro jogo vale tanto quanto o último. Só há duas formas de se diminuir este problema de se escalar time misto ou reserva em uma competição para priorizar outra: estendendo a Copa do Brasil até o fim do ano ou (o ideal, na minha opinião) adaptando o calendário brasileiro ao calendário europeu. Assim os nacionais e os internacionais poderão se encerrar simultaneamente.

 

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