BlogBola

Tentando dar alguma razão à emoção do futebol

3 de jul. de 2008

É do jogo

escrito por Raphael Perret @ 01:55 4 comentário(s)

Fluminense 3 x 1 LDU (1 x 3 nos pênaltis), Maracanã, segundo jogo da final da Libertadores 2008, 02/07/2008


Foi assim contra o São Paulo, foi assim contra o Boca Juniors: a vitória tinha que ser épica, histórica, sofrida. O gol de Bolaños aos 5 minutos do primeiro tempo aumentava a carga dramática da partida. E o destino parecia ser um título eterno, com os 3 a 1 já no início do segundo tempo, graças a um Thiago Neves oportunista e iluminado.

Mas o Fluminense, como um todo, não parecia em um dia mágico, como esteve nas outras duas grandes vitórias. Fernando Henrique não brilhou (não foi muito exigido, mas assustou em alguns lances), a defesa falhou bastante e bateu cabeça, o próprio Thiago Neves, tirando o momento dos gols, não armou muitas jogadas e...

Bem, Washington e Dodô confirmaram aquilo que seus detratores sempre reforçaram: que não são jogadores decisivos. Foram importantes no meio do caminho da Libertadores e deram a impressão de que calariam seus críticos. Mas a atuação dos dois jogadores, sobretudo de Washington, péssimo, confirmou a dificuldade deles em decidir um campeonato.

Assim, não se entra pra história.

***

No Sportv dizem que o Flu pareceu satisfeito ao fazer 3 a 1 e não lutou tanto pelo quarto gol. Injusto. O Fluminense buscou os gols, sempre. Só que a LDU jogou bem, manteve a calma mesmo diante de uma torcida incansável e, principalmente, marcou muito bem a saída de bola do Tricolor. Com esta tática - que deveria ser permanente em qualquer time do planeta - o time equatoriano atrapalhou o toque de bola do Fluminense, conseguiu alguns desarmes e laterais. Enfim, ganhou tempo, medida fundamental para um time que tinha a vantagem durante boa parte do jogo.

***

Mesmo assim, é de se louvar a atuação de Arouca, Conca e Junior Cesar, este sim, irretocável no segundo tempo.

A LDU também mostrou valores, como Manso, Guerron e Bolaños. E Cevallos, muito inseguro durante o jogo, foi essencial na cobrança dos pênaltis, até com uma catimba inédita e três defesas.

***

Não faltou fibra nem garra. Alguns jogadores apenas não atuaram bem. Por inexperiência? Não, em outros momentos, mais difíceis até, os atletas se superaram. Por cansaço? Mas o Flu titular só tem jogado às quartas.

Só nos resta recorrer ao clichê. Às vezes se ganha, às vezes se perde.

Hoje foi o dia da derrota.

Marcadores: ,

26 de jun. de 2008

No fim, o silêncio

escrito por Raphael Perret @ 00:24 2 comentário(s)

LDU 4 x 2 Fluminense, Casa Blanca (Quito), primeiro jogo da final da Libertadores 2008, 25/06/2008


Os primeiros minutos já anunciavam o terror que seria a noite de hoje para os tricolores. Lembram-se dos dois grandes fatores que levaram o Fluminense à final da Libertadores? Um era o poder de decisão de alguns jogadores, outro era a sorte. Ambos não estavam em Quito.

O primeiro gol da LDU sai antes do segundo minuto se completar. Numa falha de Thiago Silva, que deixou Bieler se antecipar. Ora, uma falha do excelente Thiago Silva só pode significar que a sorte não acompanhava o Fluminense.

Minutos depois, Washington, tão importante contra São Paulo e Boca Juniors, perdeu um gol na cara de Cevallos, chutando em cima do goleiro. Chance que não se desperdiça numa final de Libertadores. O jogador passou a dar munição a quem o classificava como sem poder de decisão. E provou ao longo da partida, ao ter uma atuação nula.

Mas, como nos outros jogos do torneio,o Fluminense passou a atacar mais depois de ficar em desvantagem (isso, sim, que é emoção). E conseguiu o empate, aos 11, pra variar, de falta, muito bem batida por Conca.

A igualdade foi providencial. A torcida, até então animada, se calou. A LDU passou a errar mais. Jogadores levavam bola nas costas, perdiam a jogada sozinhos... Só que o Fluminense não teve coragem de partir pra cima. E, pior, Ygor, Arouca e Junior Cesar erraram mais do que os equatorianos. E nem sempre a LDU falhava. Quando acertava, chegava na cara do gol.

Aos 26, Luiz Alberto cometeu, acredite, a primeira falta do time brasileiro. Falta fatal: no rebote da cobrança, Guerrón acerta belo chute no canto esquerdo de Fernando Henrique.

Mantendo a tradição, o Fluminense tentou chegar junto. Entretanto, o posicionamento do time era inacreditável. A linha de volantes e zagueiros não saía de sua intermediária, enquanto os meias e os atacantes ficavam muito à frente. Criou-se um vazio tricolor no meio-de-campo, facilmente dominado pela LDU. A ligação entre defesa e ataque era dificílima. Os laterais ficaram presos. Desta forma, era impossível armar uma jogada decente. Era melhor se o time todo estivesse recuado, inclusive o ataque: pelo menos a ligação seria mais fácil e "bastaria" usar a velocidade.

Com essa dificuldade, a bola não saía do campo do Fluminense. E entrou no gol do time mais duas vezes, em duas cobranças de escanteio, com Campos (33 min) e Urrutia (45 min). Apesar das limitações da LDU, a timidez e a imprecisão do Fluminense passavam a tornar o placar justo.

Veio o segundo tempo, sem modificações de Renato Gaúcho. A menos que houvesse problemas de preparo físico, concordei. O maior problema era o posicionamento. Se este fosse corrigido, talvez diminuísse a taxa de erros individuais.

E foi o que aconteceu. Os espaços na configuração tática do Flu diminuíram e o time, de alguma forma, se ajeitou. E achou um golzinho logo aos 6 minutos, com Thiago Neves, de cabeça, uma raridade.

Os volantes, mais à frente, facilitaram a saída de bola. A mudança tática fez com que o meio-campo se equilibrasse e os meias, Cícero, Conca e Thiago Neves, achassem mais espaço para trabalhar e criar jogadas. Mas ainda faltava objetividade, até porque a LDU recuou e marcava bem.

Aos poucos, o gás foi acabando. A LDU chegou mais perto, em faltas laterais e, principalmente, nos escanteios, que se mostraram uma arma poderosíssima do time do Equador, como nunca vi sendo aplicada por nenhuma outra equipe.

Faltando 10 minutos, tirando uma bola na trave de Fernando Henrique, os dois times demonstravam satisfação com o 4 a 2. Para a LDU, a vantagem é muito boa. Para o Flu, a desvantagem é possível de se reverter, nem que seja para levar o jogo para os pênaltis.

A maior prova de que tudo pode acontecer no Maracanã se deu na reação dos torcedores, aqui perto de casa, ao fim do jogo. Durante os gols da LDU, os anti-Flu vibravam. Quando o Tricolor marcou seus gols, seus torcedores urravam. No apito final, porém, ouviu-se o silêncio: ninguém teve coragem de celebrar o resultado.

Afinal, está apenas começando o intervalo de um jogo de 180 minutos.

***

Um dos maiores obstáculos para a vitória do Fluminense no Maracanã estará em campo, mas não é nenhum jogador da LDU. O árbitro Hector Baldassi, na última vez que esteve no estádio, aprontou pra cima do Flamengo, na última partida do time na Libertadores de 2007, quando derrotou o Defensor do Uruguai por 2 a 0 e ficou a um gol de levar o jogo aos pênaltis. Olho nele.

***

Em oito vezes, o time mandante venceu a primeira partida da final da Libertadores por dois gols de diferença.

Apenas em uma, em 1987, o visitante conseguiu ser o campeão. E, mesmo assim, venceu por um gol de diferença o jogo de volta e, porque até aquele ano o saldo de gols não era critério de desempate, conquistou o título com vitória em um terceiro jogo, disputado em campo neutro.

Apenas em uma, em 1989, o visitante conseguiu ser o campeão. Em 1987, também aconteceu, mas com outras regras: o visitante venceu por um gol de diferença o jogo de volta e, como até aquele ano o saldo de gols não era critério de desempate, conquistou o título com vitória em um terceiro jogo, disputado em campo neutro.

Enfim, um tabu. Mas o que é um tabu para o Fluminense, que eliminou o São Paulo, tarefa historicamente difícil para uma equipe brasileira, e despachou o Boca Juniors, feito inédito para um time do Brasil depois de 35 anos?

Confira as oito situações (em negrito, os campeões):

1966 – Peñarol 2 x 0 River Plate, River Plate 3 x 2 Peñarol e Peñarol 4 x 2 River Plate
1979 – Olímpia 2 x 0 Boca Juniors e Boca Juniors 0 x 0 Olimpia
1987 – América de Cáli 2 x 0 Peñarol, Peñarol 2 x 1 América de Cáli e Peñarol 1 x 0 América de Cáli
1989 – Olimpia 2 x 0 Atlético Nacional e Atlético Nacional 2 x 0 Olimpia (5 x 4 nos pênaltis)
1990 – Olimpia 2 x 0 Barcelona-EQU e Barcelona-EQU 1 x 1 Olimpia
1995 – Grêmio 3 x 1 Atlético Nacional e Atlético Nacional 1 x 1 Grêmio
1998 – Vasco 2 x 0 Barcelona-EQU e Barcelona-EQU 1 x 2 Vasco
2003 – Boca Juniors 2 x 0 Santos e Santos 1 x 3 Boca Juniors


***

Um amigo meu disse que a interrupção da Libertadores, há duas semanas, foram nocivas ao Fluminense. "O time perdeu o embalo", disse ele. A atuação do time, sobretudo no primeiro tempo, dava razão ao meu amigo. Não houve corpo mole, mas faltou vibração, a mesma que comandou o time nos jogos recentes no Maracanã e, pelo menos, contra o Boca, na Argentina. Ter realizado o primeiro jogo no Equador, longe da torcida, agravou o problema.

Mas a derrota de hoje pode ser o combustível para inflamar os torcedores e empurrar o time pra cima da LDU, na quarta-feira que vem, em busca dos três gols.

O embalo já está de volta.

Será que a tempo?

(Atualizado em 26/06/2008, 16:43)

Marcadores: ,

24 de jun. de 2008

Ingressos esgotados. Você, tricolor, está com o seu?

escrito por Raphael Perret @ 22:18 1 comentário(s)

Foto de Celso Pupo, publicada no blog Fim de Jogo
Foto de Celso Pupo, publicada no blog Fim de Jogo

Na imprensa esportiva carioca, as notícias de maior destaque, na última semana, foram a fraca campanha do Brasil nas Eliminatórias, as eleições no Vasco e a confusão na compra de ingressos para a finalíssima da Libertadores, entre Fluminense e LDU, do Equador, no Maracanã, no dia 2 de julho. As cenas de desordem na fila e policiais atacando torcedores estão se tornando, infelizmente, corriqueiras, sem que providências sejam tomadas pra valer.

Venda de ingressos para jogos de grande apelo, sobretudo no Maracanã, trazem sempre desnecessárias pitadas de emoção. Motivos sobram para explicar a baderna: falta de inteligência dos dirigentes, logística idiota, policiais despreparados, leniência com cambistas e outras barbaridades. As engrenagens que movimentam o esquema de comércio de ingressos são tão conexas que tentar desvinculá-las é uma tarefa ingrata, árdua e longa. Enquanto já é possível comprar ingressos pela internet para filmes, peças, shows e jogos de futebol em qualquer lugar da Europa, por aqui é inimaginável poder adquirir bilhetes por qualquer meio que não seja na boca do caixa, em três ou quatro postos de venda diferentes, mal localizados.

(Veja algumas notícias sobre a confusão: o relato de um repórter-torcedor do Fluminense, o informe do blog Fim de Jogo e um vídeo numa matéria do GloboEsporte.com)

A estrutura clandestina leva os ingressos rapidamente ao esgotamento. Os responsáveis anunciam o fim das vendas como se fosse fim de expediente. Em conversas informais, descubro que ninguém que tenha tentado comprar suas entradas conseguiu. Mas como? Eu conheço muitos tricolores. Vários amigos meus também têm contato com torcedores do Fluminense. Apaixonada e ansiosa por ver seu time prestes a conquistar o maior título de sua história, a maioria da galera pó-de-arroz, sem dúvida, correria atrás de entradas para o jogo.

Assim, através do meu e-mail, procurei algumas pessoas e perguntei-lhes se conheciam alguém que tentou comprar ingressos no sábado com êxito. Minha modesta sondagem revelou que 16 pessoas tentaram comprar. Destas:

- 4 compraram com cambista
- 2 compraram porque um deles "era amigo de algum 'influente' do clube"
- 4 não conseguiram, além de "uma galera que ficou na fila e só conseguiu entrar na porrada"
- 1, sócio, comprou três arquibancadas, depois de cinco horas na fila nas Laranjeiras
- 1 está conseguindo "com alguém que conseguiu de alguma outra maneira e vai pagar o dobro"
- 4 conseguiram na fila de idosos, ou porque alguém foi junto, ou porque o próprio era o idoso (destes, 2 tinham tentado comprar na fila normal)

Resumindo:

- 1 conseguiu comprar após 5 horas na fila
- 7 conseguiram comprar, mas não foi na bilheteria
- 4 conseguiram comprar, usando a fila de idosos
- 4 não conseguiram comprar

Ou seja, a diretoria do Fluminense põe 69 mil ingressos à venda, tudo se esgota em uma manhã e somente uma em 16 pessoas sondadas conseguiu comprar ingresso normalmente. Segundo esta proporção, era necessário que houvesse mais de 1 milhão de pessoas na cidade querendo seus bilhetes. Acredite: a proporção pode ser maior, pois não incluí as pessoas com quem já havia conversado, antes de enviar o e-mail. E tem mais: das 16 que responderam, sete compraram com cambistas. Mas como os cambistas conseguem ingressos, se a venda era limitada a duas entradas por pessoa? Pelas contas do torcedor Pedro Lucas de Vasconcellos, em nota publicada pelo Juca Kfouri, as bilheterias precisavam atender duas pessoas por segundo. Uma fantástica rapidez que não correspondia à velocidade com que a fila andava.

Somente estas informações já seriam suficientes para iniciar, ainda que timidamente, uma investigaçãozinha, uma perguntinha à diretoria do clube, uma indagação à polícia militar, um questionamento à Suderj. Mas a vista grossa das autoridades e dirigentes é vergonhosa. Falta claramente vontade política para resolver o problema. Sabemos que, quando os poderosos botam mesmo a mão na massa, os resultados aparecem e até estranhamos quando parecemos viver numa sociedade civilizada. Com a omissão generalizada, estamos perto mesmo é da barbárie.

Quero ver na Copa de 2014 (hahahaha!). Lembra do Pan? Então.

Marcadores: ,

4 de jun. de 2008

Troféu com tinta tricolor

escrito por Raphael Perret @ 23:54 2 comentário(s)

Fluminense 3 x 1 Boca Juniors, Maracanã, segundo jogo da semifinal da Libertadores 2008, 04/06/2008


Quando Cícero começou a pedalar antes dos cinco do primeiro tempo, pensei: "Hummmmm, isso não vai dar certo". E não deu. O Boca Juniors dominou os 45 minutos iniciais e parte da segunda etapa, até fazer o primeiro gol com Palermo.

O Flu jogava mal, sem articular nada, e com um meio-campo entregue à marcação argentina. Até que apareceram os dois personagens que conduziram o Fluminense à decisão da Libertadores.

1) O jogador decisivo. Washington carregava a pecha de bom finalizador e artilheiro, porém omisso nas decisões. Foi assim com o Atlético-PR no Brasileiro de 2004, foi assim no próprio Flu nas semifinais dos turnos do Estadual. Porém, na Libertadores, mostrou estrela, força, coragem e... poder de decisão. Marcou dois gols contra o São Paulo e um golaço de falta contra o Boca, pouco depois do tricolor sofrer o gol. Dodô, também acusado de fugir da hora H, deixou sua marca importantíssima na quarta-de-final e na semifinal. O Fluminense prova que contratou certo para o ataque.

2) Sorte. Ou você acha que, sem ela, aquela bola metida por Conca e desviada por Ibarra entraria no gol? Ou você acha que, desprezando a sorte, o Fluminense empataria (tanto em Avellaneda quanto no Rio) logo depois de sofrer os gols do Boca? Ter sorte, no futebol, não é demérito nenhum. É um privilégio. É muito bom o time ter habilidade, competência... e sorte.

Enfim, 2 a 1 para o time brasileiro. Mas um gol argentino levaria a decisão pros pênaltis. Impressionante esse Boca Juniors: o time não se afoba, não corre e continua jogando como se a partida tivesse acabado de começar. Foi assim que chegou diversas vezes perto do empate, mesmo diante de uma poderosa retranca tricolor. E foi assim que o Boca Juniors consagrou Fernando Henrique e transformou-o, nesta noite, em um dos melhores goleiros do Brasil. Atuação soberba.

O tempo passou, o Boca não fez seu gol e, enfim, começou a se desesperar. Nisso, o Flu se aproveitou e fez 3 a 1, assim como poderia ter feito outros em seguidas bobagens da defesa boquense.

A atuação tricolor não foi magnífica. Mas a rapidez do time em reverter a vantagem, a sorte, sempre presente, a resistência feroz às investidas do Boca Juniors e a sensacional festa da torcida tornaram o jogo de hoje inesquecível.

Agora, o Flu aguarda o dia 25 de junho pra desafiar a LDU na grande final da Libertadores de 2008, em Quito. Exatamente onde tudo começou.

***

Melhor campanha, melhor defesa, maior goleada (e melhor atuação, indiscutivelmente), classificações épicas sobre monstros sul-americanos como São Paulo e Boca Juniors, final no Maracanã...

Vamos falar sério? Essa Libertadores está muito branca, verde e grená.

Marcadores: ,

29 de mai. de 2008

Fluminense: competente na defesa, sortudo no ataque

escrito por Raphael Perret @ 00:45 2 comentário(s)

Boca Juniors 2 x 2 Fluminense, Juan Perón (Avellaneda,ARG), primeiro jogo da semifinal da Libertadores 2008, 28/05/2008

O Boca insistiu nos lances aéreos, sobretudo pela esquerda. Era quase impossível superar a defesa do Flu no alto. Quando jogou tabelando, chegou ao primeiro gol. O que joga Riquelme é impressionante. Assim como espanta a frieza e maturidade do Boca. Reparem na comemoração do gol de abertura: um ou outro abraço e a volta rápida ao seu campo. Como se pensassem: "Ainda tem jogo".

No segundo tempo, o Flu só conseguia sair jogando quando o Boca errava um passe. Foi um massacre xeneize a etapa final, suportado a duras penas pela ótima zaga tricolor.

O Fluminense também contou com a sorte. Jogou bem na defesa, mas o ataque errou muito e criou pouco. Conseguiu seus gols em jogada de bola parada (que impulsão de Thiago Silva!) e num frango do goleiro Migliore, após chute de Thiago Neves.

***

Os gols do Boca também merecem atenção. Um saiu de uma jogada veloz, com inversão de lado e cruzamento rasteiro. O outro foi de falta, desviada na barreira. O Flu segurou a barra com firmeza. Se a bola passava da linha de zaga, não suplantava o goleiro Fernando Henrique.

Já os gols do Fluminense vieram em falhas de marcação da defesa do Boca Juniors. Isso não é menosprezar a qualidade ofensiva do time tricolor, mas uma constatação: a proteção ao gol de Migliore é deficiente. Se o Fluminense apertar e mantiver o equilíbrio atrás, ganha no Maracanã.

***

O time brasileiro teve um ótimo resultado. Ouço, na rua, os torcedores comemorarem como se o tricolor tivesse se classificado.

Porém, não pensem que é só administrar o jogo no Maracanã. Vai ser dureza. Veja o desempenho do Boca Juniors quando fez o segundo jogo fora de casa, nas últimas Libertadores:

2008
Oitavas: 2 x 1 Cruzeiro (2 x 1 em casa, classificou-se)
Quartas: 3 x 0 Atlas-MEX (2 x 2 em casa, classificou-se)

2007

Oitavas: 1 x 3 Vélez-ARG (3 x 0 em casa, classificou-se)
Quartas: 2 x 0 Libertad-PAR (1 x 1 em casa, classificou-se)
Final: 2 x 0 Grêmio (3 x 0 em casa, foi campeão)

2006 (não disputou)

2005 (disputou sempre a primeira fora de casa, eliminado nas quartas)

2004
Semi: 1 x 2 River Plate-ARG (1 x 0 em casa, classificou-se nos pênaltis)
Final: 1 x 1 Once Caldas-COL (0 x 0 em casa, foi vice nos pênaltis)

2003
Oitavas: 4 x 1 Paysandu (0 x 1 em casa, classificou-se)
Semi: 4 x 0 América-COL (2 x 0 em casa, classificou-se)
Final: 3 x 1 Santos (2 x 0 em casa, foi campeão)

2002
Quartas: 0 x 1 Olímpia-PAR (1 x 1 em casa, eliminado)

2001
Semi: 2 x 2 Palmeiras (2 x 2 em casa, classificou-se nos pênaltis)

2000
Semi: 1 x 3 América-MEX (4 x 1 em casa, classificou-se)
Final: 0 x 0 Palmeiras (2 x 2 em casa, foi campeão nos pênaltis)

Assim, em todas as edições da Libertadores de 2000 pra atual:

- nas 14 vezes em que jogou a segunda partida da fase mata-mata fora de casa, perdeu a vaga ou o título somente 2 vezes;
- quando não ganhou a primeira partida (7 vezes), classificou-se ou foi campeão em 5 oportunidades;
- quando empatou a primeira em 2 a 2, classificou-se ou foi campeão na casa do adversário.

Portanto, Fluminense, atenção com o Boca Juniors. É evidente que é possível superá-lo. Mas, como disse antes, vai ter que comer arroz, feijão e grama.

Marcadores: ,

22 de mai. de 2008

O feriado é tricolor e carioca

escrito por Raphael Perret @ 00:09 1 comentário(s)

Fluminense 3 x 1 São Paulo, Maracanã, segunda partida das quartas-de-final da Libertadores 2008, 21/05/2008


Se o Fluminense for campeão da Libertadores de 2008, o jogo de hoje, contra o São Paulo, entrará para a história (se o Flu for eliminado, ninguém vai lembrar). Sofrer um gol que o desclassificaria, fazer um imediatamente depois e o derradeiro aos 47 do segundo tempo, de cabeça em cobrança de escanteio? É antológico.

Vibrem, tricolores, o feriado de Corpus Christi é todo seu.

***

O Fluminense só foi pro ataque em três momentos: no início do jogo, quando sofreu o gol do São Paulo e quando Joílson foi expulso. Tirando estes períodos, o time das Laranjeiras parecia que se classificaria com o resultado que estivesse em andamento - o que só ocorreu quando Washington marcou seu golaço de cabeça.

Foi sofrido para o Fluminense. O São Paulo jogou com consciência, tocando a bola com tranqüilidade e se tornou ainda mais perigoso com a entrada de Aloísio no lugar de Dagoberto, fraco. Mas o que faltou ao Flu, no Morumbi, não foi escasso no Maracanã: raça. Mesmo sem a velocidade de que precisava, o time lutou muito, do goleiro ao ataque. Sabia da importância da partida, apesar de uma aparente preguiça em alguns momentos.

O São Paulo errou pouco, mas falhou nos momentos fatais. Cochilou nos dois primeiros gols. No terceiro, um vacilo triplo: Washington fez o gol marcado por três zagueiros.

Se, semana passada, a força de marcação venceu a técnica, hoje a garra superou a frieza.

***

No Flu, Junior Cesar, Conca e, claro, Washington, foram os melhores. O São Paulo também não pode reclamar de Hernanes e Adriano.

Agora, é impossível entender como Richarlyson é titular do atual bicampeão brasileiro.

***

Contra Santos ou América, o Flu é favorito.

Contra Boca Juniors, o tricolor vai ter que comer arroz, feijão, grama... O que vier.

Marcadores: , ,

15 de mai. de 2008

Garra e marcação superam a técnica

escrito por Raphael Perret @ 00:13 0 comentário(s)

São Paulo 1 x 0 Fluminense, Morumbi (São Paulo), primeira partida das quartas-de-final da Libertadores, 14/05/2008


Deixar o São Paulo fazer 1 a 0 é erguer uma muralha na área adversária. Desde 2007 o time paulista é competente na defesa e sabe impedir gols. A vantagem, para quem enfrenta o São Paulo, é que o contra-ataque não é veloz. As desvantagens, porém, são mais numerosas: o tricolor do Morumbi é bom no jogo aéreo, nas triangulações e nas inversões de lado. Com Adriano (um tanque!) em boa forma, o perigo é multiplicado. Mas, ontem, foi atenuado com a imprecisão dos chutes e passes de Dagoberto, que perdeu um gol incrível aos 27 do segundo tempo.

A entrada de Conca no Fluminense era óbvia e necessária. Poderia ter ocorrido desde que o placar foi alterado, dada a dificuldade de entrada na área são-paulina. Com dois armadores e dois atacantes, além da subida dos laterais, o tricolor carioca poderia ter chegado mais ao gol de Rogério Ceni. A substituição só veio no meio do segundo tempo e se justificaria com uma boa atuação de Conca, mas, a meu ver, foi errada. Thiago Neves, embora atuando mal e com um cartão amarelo na conta, seria mais útil com a companhia do argentino, enquanto Dodô errava tudo e vinha sem ritmo de jogo.

Enfim, o time mais técnico não resistiu ao time mais forte na marcação. Além disso, o São Paulo mostrou mais raça e disposição, principalmente no primeiro tempo, quando ganhou a maioria das divididas. O famoso "detalhe" que faz a diferença nos jogos equilibrados esteve na garra dos paulistas.

O Flu pode reverter no Maracanã. Mas vai ter que partir com um volume ofensivo maior, para suplantar a robusta defesa do São Paulo.

Marcadores: , ,