LDU 4 x 2 Fluminense, Casa Blanca (Quito), primeiro jogo da final da Libertadores 2008, 25/06/2008
Os primeiros minutos já anunciavam o terror que seria a noite de hoje para os tricolores. Lembram-se dos
dois grandes fatores que levaram o Fluminense à final da Libertadores? Um era o poder de decisão de alguns jogadores, outro era a sorte. Ambos não estavam em Quito.
O primeiro gol da LDU sai antes do segundo minuto se completar. Numa falha de Thiago Silva, que deixou Bieler se antecipar. Ora, uma falha do excelente Thiago Silva só pode significar que a sorte não acompanhava o Fluminense.
Minutos depois, Washington, tão importante contra São Paulo e Boca Juniors, perdeu um gol na cara de Cevallos, chutando em cima do goleiro. Chance que não se desperdiça numa final de Libertadores. O jogador passou a dar munição a quem o classificava como sem poder de decisão. E provou ao longo da partida, ao ter uma atuação nula.
Mas, como nos outros jogos do torneio,o Fluminense passou a atacar mais depois de ficar em desvantagem (isso, sim, que é emoção). E conseguiu o empate, aos 11, pra variar, de falta, muito bem batida por Conca.
A igualdade foi providencial. A torcida, até então animada, se calou. A LDU passou a errar mais. Jogadores levavam bola nas costas, perdiam a jogada sozinhos... Só que o Fluminense não teve coragem de partir pra cima. E, pior, Ygor, Arouca e Junior Cesar erraram mais do que os equatorianos. E nem sempre a LDU falhava. Quando acertava, chegava na cara do gol.
Aos 26, Luiz Alberto cometeu, acredite, a primeira falta do time brasileiro. Falta fatal: no rebote da cobrança, Guerrón acerta belo chute no canto esquerdo de Fernando Henrique.
Mantendo a tradição, o Fluminense tentou chegar junto. Entretanto, o posicionamento do time era inacreditável. A linha de volantes e zagueiros não saía de sua intermediária, enquanto os meias e os atacantes ficavam muito à frente. Criou-se um vazio tricolor no meio-de-campo, facilmente dominado pela LDU. A ligação entre defesa e ataque era dificílima. Os laterais ficaram presos. Desta forma, era impossível armar uma jogada decente. Era melhor se o time todo estivesse recuado, inclusive o ataque: pelo menos a ligação seria mais fácil e "bastaria" usar a velocidade.
Com essa dificuldade, a bola não saía do campo do Fluminense. E entrou no gol do time mais duas vezes, em duas cobranças de escanteio, com Campos (33 min) e Urrutia (45 min). Apesar das limitações da LDU, a timidez e a imprecisão do Fluminense passavam a tornar o placar justo.
Veio o segundo tempo, sem modificações de Renato Gaúcho. A menos que houvesse problemas de preparo físico, concordei. O maior problema era o posicionamento. Se este fosse corrigido, talvez diminuísse a taxa de erros individuais.
E foi o que aconteceu. Os espaços na configuração tática do Flu diminuíram e o time, de alguma forma, se ajeitou. E achou um golzinho logo aos 6 minutos, com Thiago Neves, de cabeça, uma raridade.
Os volantes, mais à frente, facilitaram a saída de bola. A mudança tática fez com que o meio-campo se equilibrasse e os meias, Cícero, Conca e Thiago Neves, achassem mais espaço para trabalhar e criar jogadas. Mas ainda faltava objetividade, até porque a LDU recuou e marcava bem.
Aos poucos, o gás foi acabando. A LDU chegou mais perto, em faltas laterais e, principalmente, nos escanteios, que se mostraram uma arma poderosíssima do time do Equador, como nunca vi sendo aplicada por nenhuma outra equipe.
Faltando 10 minutos, tirando uma bola na trave de Fernando Henrique, os dois times demonstravam satisfação com o 4 a 2. Para a LDU, a vantagem é muito boa. Para o Flu, a desvantagem é possível de se reverter, nem que seja para levar o jogo para os pênaltis.
A maior prova de que tudo pode acontecer no Maracanã se deu na reação dos torcedores, aqui perto de casa, ao fim do jogo. Durante os gols da LDU, os anti-Flu vibravam. Quando o Tricolor marcou seus gols, seus torcedores urravam. No apito final, porém, ouviu-se o silêncio: ninguém teve coragem de celebrar o resultado.
Afinal, está apenas começando o intervalo de um jogo de 180 minutos.
***
Um dos maiores obstáculos para a vitória do Fluminense no Maracanã estará em campo, mas não é nenhum jogador da LDU. O árbitro Hector Baldassi, na última vez que esteve no estádio, aprontou pra cima do Flamengo, na última partida do time na Libertadores de 2007, quando derrotou o Defensor do Uruguai por 2 a 0 e ficou a um gol de levar o jogo aos pênaltis. Olho nele.
***
Em oito vezes, o time mandante venceu a primeira partida da final da Libertadores por dois gols de diferença.
Apenas em uma, em 1987, o visitante conseguiu ser o campeão. E, mesmo assim, venceu por um gol de diferença o jogo de volta e, porque até aquele ano o saldo de gols não era critério de desempate, conquistou o título com vitória em um terceiro jogo, disputado em campo neutro.Apenas em uma, em 1989, o visitante conseguiu ser o campeão. Em 1987, também aconteceu, mas com outras regras: o visitante venceu por um gol de diferença o jogo de volta e, como até aquele ano o saldo de gols não era critério de desempate, conquistou o título com vitória em um terceiro jogo, disputado em campo neutro.Enfim, um tabu. Mas o que é um tabu para o Fluminense, que eliminou o São Paulo, tarefa historicamente difícil para uma equipe brasileira, e despachou o Boca Juniors, feito inédito para um time do Brasil depois de 35 anos?
Confira as oito situações (em negrito, os campeões):
1966 –
Peñarol 2 x 0 River Plate, River Plate 3 x 2
Peñarol e
Peñarol 4 x 2 River Plate
1979 –
Olímpia 2 x 0 Boca Juniors e Boca Juniors 0 x 0
Olimpia1987 – América de Cáli 2 x 0
Peñarol,
Peñarol 2 x 1 América de Cáli e
Peñarol 1 x 0 América de Cáli
1989 –
Olimpia 2 x 0 Atlético Nacional e Atlético Nacional 2 x 0
Olimpia (5 x 4 nos pênaltis)
1990 –
Olimpia 2 x 0 Barcelona-EQU e Barcelona-EQU 1 x 1
Olimpia1995 –
Grêmio 3 x 1 Atlético Nacional e Atlético Nacional 1 x 1
Grêmio1998 –
Vasco 2 x 0 Barcelona-EQU e Barcelona-EQU 1 x 2
Vasco2003 –
Boca Juniors 2 x 0 Santos e Santos 1 x 3
Boca Juniors***
Um amigo meu disse que a interrupção da Libertadores, há duas semanas, foram nocivas ao Fluminense. "O time perdeu o embalo", disse ele. A atuação do time, sobretudo no primeiro tempo, dava razão ao meu amigo. Não houve corpo mole, mas faltou vibração, a mesma que comandou o time nos jogos recentes no Maracanã e, pelo menos, contra o Boca, na Argentina. Ter realizado o primeiro jogo no Equador, longe da torcida, agravou o problema.
Mas a derrota de hoje pode ser o combustível para inflamar os torcedores e empurrar o time pra cima da LDU, na quarta-feira que vem, em busca dos três gols.
O embalo já está de volta.
Será que a tempo?
(Atualizado em 26/06/2008, 16:43)Marcadores: Fluminense, Libertadores