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Tentando dar alguma razão à emoção do futebol

30 de ago. de 2006

"Profissionalismo" chega à seleção argentina

escrito por Raphael Perret @ 00:12

Bilionário russo compra seleção argentina. Uma manchete forte? Julgue-a imprópria ou não. A verdade é que Victor Vekselberg pagou 18 milhões de dólares para a Federação de Futebol da Argentina para organizar os amistosos da seleção e indicar jogadores que devem fazer parte dos convocados pelo técnico Alfio Basile.

Parece que a coisa não é bem assim. A lista de escalados é apenas uma "sugestão", que força o treinador a não convocar jogadores de segundo escalão. E marcar amistosos é uma tarefa que já cabe mesmo a empresários, segundo a matéria da Veja.

Terceirizar oficialmente a organização dos jogos não chega a ser um erro grave. O problema é que marcam-se partidas com os adversários que pagarem melhor, o que não significa adversários de primeiro quilate. Agora fica claro porque o Brasil de vez em quando joga contra Hong Kong, na casa do oponente, na quarta-feira de Cinzas.

Agora, indicar jogadores é a antítese do profissionalismo. Se os contratos publicitários exigem, ainda que veladamente, a presença do jogador A ou B na seleção, agora a negociata fica escancarada e oficial. O critério técnico é abolido de vez, prevalecendo os cifrões que circulam em órbita de determinados atletas.

Quando se exige uma postura profissional dos clubes, parece que os cartolas entendem que a associação com empresas e empresários e a conseqüente entrada do dinheiro são obrigatórios e deve ocorrer a qualquer preço, mesmo que de forma atabalhoada e a prejuízo de determinados valores éticos. Embora, no início, pareça vantajoso, um contrato como o do bilionário russo pode trazer muitos problemas depois.

E alguns argentinos já sabem disso. Pelo menos os que jogam no Corinthians.

Segue, abaixo, a matéria da Veja:


Compraram os argentinos

Bilionário russo adquire o direito de escolher os adversários – e até os jogadores – da seleção argentina

A seleção argentina de futebol foi praticamente vendida neste mês ao magnata Victor Vekselberg, uma das cinco maiores fortunas da Rússia, por 18 milhões de dólares (cerca de 40 milhões de reais). Esse é o valor que a empresa Renova, do bilionário russo, pagou pelo direito de organizar 24 amistosos nos próximos cinco anos, escolhendo não só os adversários dos argentinos mas até os jogadores que podem participar desses jogos. O técnico Alfio Basile recebeu uma lista com o nome de trinta jogadores, que devem compor a base de suas próximas convocações. O primeiro jogo da nova era já está marcado: será no próximo dia 3, em Londres, contra a seleção brasileira do técnico Dunga.

Como não podia deixar de ser, os termos do contrato causaram polêmica. O presidente da federação argentina, Julio Grondona, uma espécie de Ricardo Teixeira local – está no poder desde 1979, dez anos a mais que seu colega da CBF –, defendeu a decisão de terceirizar a agenda da seleção nacional. Alegou que dá trabalho procurar rivais para amistosos e que os milhões de dólares são uma garantia de renda para manter o centro de treinamento da seleção, em Ezeiza, o equivalente argentino da Granja Comary. Garantiu que, apesar da lista de trinta nomes, os russos aceitarão quem quer que Basile convoque e previu que os novos parceiros escolherão adversários de bom nível para a Argentina. "O tempo, insubornável companheiro, nos dará razão", discursou em tom de letra de tango ao anunciar o contrato.

Em uma análise fria, o cartola argentino tem certa razão. Organizar amistosos já é, há muito tempo, tarefa intermediada por empresários. A novidade é apenas vendê-los em pacote. O valor do contrato dá uma média de 750.000 dólares por partida, mais do que os argentinos costumam receber hoje. O Brasil em geral pede 1 milhão de dólares (recebeu 1,3 milhão para jogar em Oslo no início do mês, segundo a imprensa norueguesa). Além disso, a federação argentina pode arrecadar mais vendendo os direitos de transmissão pela TV. Teoricamente, os russos terão interesse em marcar jogos rentáveis, contra times fortes. E a cláusula que "impõe" uma lista de jogadores é flexível – trata-se apenas de uma garantia para evitar que a Argentina ponha em campo um time B. Basile já mostrou isso ao convocar alguns novatos que não estavam na lista para o jogo contra o Brasil.

Mas há alguns senões. Ao abrir mão da soberania de negociar amistosos, a Argentina sujeita-se a enfrentar não as seleções mais fortes, e sim as que pagarem mais à Renova. Veja-se o caso da CBF, que em nome de cotas milionárias submete a seleção a amistosos inúteis contra times fracos como Emirados Árabes e Kuwait. Divulgar uma lista formal de jogadores solapa a autoridade do treinador – e foi um dos motivos da renúncia de José Pekerman, o antecessor de Basile no cargo. Cláusulas assim podem acabar em problema. No Brasil, a Nike chegou a possuir o direito de marcar cinco amistosos do Brasil por ano. Deu-se conta da roubada e desistiu. Outro patrocinador da seleção, a Ambev, tem atualmente a prerrogativa de organizar um amistoso anual. A CBF garante, porém, que participa da escolha do adversário.

1 Comentários:

Em 13:30, Anonymous Anônimo falou...

basille é uma bobagem você tirar os melhores jogadores que jogam na europa para colocar jogadores que jogam dentro do país

 

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