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Tentando dar alguma razão à emoção do futebol

27 de ago. de 2006

Vasco, teu nome é gol

escrito por Raphael Perret @ 19:09


Jean deixa Fabinho no chão: é o Vasco fazendo a festa na casa dos outros


O Vasco é um time que, tradicionalmente, marca muitos gols. Sempre primou pelos ataques poderosos, mesmo em suas piores fases. Gosta de golear. Quando perde, deixa a sua marca.

Uma boa ilustração da vocação vascaína para o gol é comparar os ídolos do clube de São Januário com os dos outros times. Enquanto, por exemplo, Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Corinthians e Fluminense endeusam Zico, Ademir, Raí, Sócrates e Rivellino, grandes craques mas que brilharam na armação das jogadas, e eventualmente na conclusão, o Vasco tem entre seus maiores ídolos grandes artilheiros, como Roberto Dinamite, Romário e Edmundo. Mesmo quando privada de jogadores de tamanha qualidade, a equipe cruzmaltina raramente deixa seu torcedor com sede de gol, porque a sacia facilmente. Só um time com ataques tão positivos poderia ser "o time da virada", costumeiro a reverter placares adversos.

Renato Gaúcho sabe disso tudo. Logo, ficou tranqüilo com o setor ofensivo de sua equipe precisou dar muita atenção à sua defesa, freqüentemente criticada. Treina a zaga e, enfim, descobriu um bom goleiro, Cássio. Aos poucos, Renato acerta a marcação, evita os gols do adversário e, bem ou mal, deixa o ataque resolver a parada. Mesmo sem Roberto, Romário ou Edmundo. Sempre foi assim com o Vasco.

E está sendo assim com o clube neste Campeonato Brasileiro. Depois de um início periclitante e um rápido trauma com a perda da Copa do Brasil, o Vasco venceu três seguidas, sendo duas fora de casa, conquistou o quarto lugar na tabela e agora tem três jogos no Rio de Janeiro. Pouco a pouco, o time de São Januário reconquista seus desacreditados torcedores e dá-lhes a oportunidade de sonhar, pelo menos, com a classificação para a Libertadores.

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Outro fator importante para a ascensão vascaína é a continuidade do trabalho de Renato Gaúcho. Há um ano dirigindo o time, o treinador conhece o grupo na palma da mão. Sabe dos defeitos e qualidades de cada jogador. Reconhece as limitações do elenco, mas é consciente de que os outros times do Brasileiro não estão muito aquém do seu. Na humildade, escala a montanha da tabela mais rápido que os adversários.

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Bonito gol de Morais, o da vitória do Vasco sobre o Inter, que coroou a boa fase do meia.

Porém, mais bonito ainda foi o gol de Iarley. Que maravilha de controle de bola! Um cruzamento forte da esquerda, e o apoiador do Inter mata a bola no peito, jogando-a para cima e, em um cálculo perfeito, prepara a bicicleta enquanto a bola cai de encontro ao seu pé. O disparo nem sai tão forte, mas a armação do chute, plenamente consciente, é esplêndida. Pena que o gol tenha valido muito pouco para o seu time.

(Internacional 1 x 2 Vasco, Beira-Rio, Porto Alegre, 27/08/2006, vigésima rodada do Campeonato Brasileiro)

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O primeiro tempo foi até pau a pau. Poucas jogadas perigosas de cada lado, partida truncada. Os atletas são-paulinos só reclamavam de faltas marcadas para o Fla e não marcadas para o tricolor pelo juiz Carlos Eugênio Simon (no primeiro tempo, pelo menos em um lance Aloísio tinha razão). Até que, numa das reclamações, Obina, na única coisa útil que fez em todo o jogo, bateu rápido, deixou Juan livre na área e o lateral-esquerdo fez 1 a 0.

Não era muito difícil manter a vitória para o Flamengo. Bastava jogar como vinha atuando até o intervalo, pois o São Paulo era dominado. Mas o segundo tempo foi muito diferente. Ney Franco tirou um volante e colocou um zagueiro, colocando o time no 3-5-2, a fim de explorar as laterais. Acontece que ou o treinador explicou mal ou o time entendeu errado, porque o Flamengo recuou acintosa, desnecessária e covardemente. Ainda que estivesse diante de si o São Paulo, líder do campeonato e vice da Libertadores, o rubro-negro ganhava de 1 a 0, fazia uma partida cuidadosa e, principalmente, atuava no Maracanã! Mas parecia que jogava no Morumbi.

Do lado adversário, Muricy colocou em campo o ótimo Lenílson, o veloz Thiago e o São Paulo dominou o Flamengo por inteiro. A defesa rubro-negra, a bem da verdade, atuava de maneira correta, desarmando na intermediária e afastando da área qualquer perigo. Mas Lenílson tentou uma, tentou duas e, na terceira, fez um golaço, de primeira, sem marcação. Embora o São Paulo tivesse volume de jogo assustadoramente maior, não atuou de forma que justificasse uma goleada. Uma virada, talvez. Porque o Flamengo, além de ter se acovardado de forma vexaminosa, na segunda etapa expôs mais dois defeitos de seu time.

Primeiro: o preparo físico. Qualquer disputa de bola era covardia. Os zagueiros são-paulinos chegavam mais rápido que os atacantes rubro-negros. Os desarmes tricolores eram limpos, na bola, e qualquer toque derrubava os jogadores do Flamengo. O mais impressionante é que o São Paulo, ao longo do ano, viajou para fora do Brasil, jogou na altitude e esbanja um condicionamento de dar inveja ao Flamengo, que fez pré-temporada, fez poucas viagens e disputou menos jogos que o time do Morumbi.

Segundo: o meio-campo indigente. Tudo bem que Obina é quase inofensivo e Sávio tem pecado pela falta de objetividade. Mas as bolas chegavam aos dois quadradinhas, quadradinhas. Vinham direto da defesa no melhor estilo lançamento-de-futebol-inglês. Contra os gigantes e bem preparados Fabão e Alex Silva, vencer uma disputa no alto é contar com sorte. Os encarregados de criar as jogadas tiveram más atuações. Renato ficou como volante, num time que tinha três zagueiros e mais um cabeça-de-área típico. E Renato Augusto é veloz, dribla bem, chega à linha de fundo, mas não é armador. Prende muito a bola (estará aprendendo com Sávio?) e municia pouco os companheiros. A revelação pode ser melhor aproveitada como atacante aberto ou até mesmo como lateral. Não como meia.

Um a um no fim do jogo, resultado justo, que beneficia o São Paulo, superlíder, e atrapalha o Flamengo, pertinho da degola.

(Flamengo 1 x 1 São Paulo, Maracanã, Rio de Janeiro, 27/08/2006, vigésima rodada do Campeonato Brasileiro)

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Mais uma derrota do Corinthians, a primeira de Leão, a primeira em casa, a décima-segunda em vinte jogos disputados no Brasileiro. A bagunça é geral no Parque São Jorge. Ainda quero falar sobre isso, mas o texto precisa ser bem elaborado e, de preferência, num post único.

(Corinthians 0 x 2 Grêmio, Pacaembu, São Paulo, 27/08/2006, vigésima rodada do Campeonato Brasileiro)

1 Comentários:

Em 15:09, Blogger Daniel F. Silva falou...

E o panorama do Vasco é animador: além dos tais três próximos jogos no Rio, o time ainda enfrentará o Corinthians em crise (o jogo será em São Paulo, mas em se tratando do atual estado corintiano, isso faz pouca diferença) e depois pega o Botafogo, um velho freguês. Ou seja, o Vasco ainda pode chegar a oito vitórias seguidas. A próxima partida "mais difícil" será contra o São Paulo, no Morumbi.

 

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